Tem se falado muito nessa campanha eleitoral sobre ameaça à democracia. A preocupação é procedente. A democracia no Brasil é recente e frágil. As leis não são cumpridas. Ou são distorcidas e usadas para favorecer determinadas pessoas ou grupos.
Certa vez eu testemunhei o encontro entre um professor alemão que já vivia no Brasil há três anos e outro que estava chegando. O veterano de Brasil sentenciou que o País é um estado de direito. Só que não funciona.
Estamos fazendo progresso. Sim, muito e acelerado. O FaceBook e as outras mídias contribuíram para criar uma opinião pública possante no Brasil. Opinião pública essa que só cresce e se consolida. Tendo culminado na eleição de candidatos com um perfil totalmente diferente para o Congresso em 2018.
Esses políticos novos que chegam ao Congresso nos enchem de esperança. O FaceBook e a eleição desses políticos com um perfil mais liberal/conservador vão detonar a hegemonia esquerdista que tomou conta do Brasil desde o final do Regime Militar.
Muitos desses políticos novos são pessoas muito bem preparadas intelectualmente, Talvez não venhamos a reviver o brilhantismo do Carlos Lacerda. Mas tenho esperança que o nível do debate melhore muito. (A propósito, se você nunca assistiu a um discurso ou entrevista no Carlos Lacerda no YouTube, não sabe o que está perdendo.)
Minha sensação pessoal é de liberação. O pessoal da esquerda ressentida continua me xingando de "fascista" e "positivista". Mas eu não dou bola. Tenho uma turma agora. Encontro minha turma todo dia no FaceBook e sei que não estou mais sozinho. Como eu me sentia na época em que o Lula tinha quase 100% de aprovação nacional. Parecia o Kim Jong-un ou o Maduro.
O FaceBook abriu uma brecha no monopólio esquerdista da opinião pública. Os libertários e conservadores podem se encontrar, se apoiar, trocar idéias e propugnar pelos seus ideais. Ser "de direita" deixou de ser vergonhoso. Eu saí do armário.
O outro avanço importante é a Lava-Jato. A Lava-Jato mostrou que é possível investigar e punir os criminosos usando o arcabouço jurídico disponível. Não precisa de nenhuma lei nova não. É só uma questão de aplicar as leis que já existem. Justiça que tarda é justiça que falha.
Acho que a Lava-Jato vai render muito mais. Mas o que ela já conseguiu não é pouco. Quase todo esse pessoal poderoso que se opunha sistematicamente à Lava-Jato foi varrido do Congresso. Ficou muito mais difícil acabar com a Lava-Jato. E o povo, elegendo democraticamente seus representantes, teve um papel importantíssimo para consolidar e assegurar o avanço da Lava-Jato.
Mas, se nós fizemos tantos progressos no sentido de criar uma opinião pública liberal/conservadora e dar sustentáculo político para a Lava-Jato, qual seria então a ameaça para a democracia? Evidentemente, a esquerda vem com a conversinha mole de que o Bolsonaro é uma ameaça à democracia.
Eu já não assistia TV. Agora parei de ouvir rádio. Tem politólogo demais no ar, discutindo as "credenciais democráticas" do Andrade e do Bolsonaro. Evidentemente, esse povo sempre conclui que o o Andrade tem as melhores credenciais.Justamente aquelas que, supostamente, faltariam ao Bolsonaro.
É sobre isso que eu ando refletindo um pouco e gostaria de compartilhar algumas opiniões. Eu penso de maneira radicalmente oposta. Acho que o Bolsonaro não consitui uma ameaça à democracia, apesar dos seus defeitos. Por outro lado, o Andrade e o PT são o bicho-papão da democracia. Mas não são epenas o Andrade e os petralhas. Tem muito mais bicho-papão solto por aí. Vou conversar sobre eles depois de discutir o Bolsonaro.
Não sei o que passa na cabeça do Bolsonaro. Mas a leitura que faço é que ele não tem a menor intenção e muito menos condições de implantar uma ditadura no Brasil. Para compreender isso é peciso considerar quem o Bolsonaro representava originalmente.
O Bolsonaro saiu do Exército por insubordinação. Ele estava fazendo política no Exército já naquela época. Estava reinvindicando salários. E já era esquentado desde sempre. Acabou conforanto a hierarquia, pegando uma cana e saindo. Foi para a política.
Na política o Bolsonaro sempre representou a opinião dos militares. Sempre foi o representante político de uma parcela significativa, se não majoritária, dos milicos. Isso ficou muito claro agora. Quem são os principais auxiliares do Bolsonaro? Quais as bandeiras originais que o Bolsonaro defende?
Se os milicos quisessem e pudessem eles já teriam re-instalado uma ditadura no Brasil há tempo. O problema é que os milicos não podem e não querem. Não será o Bolsonaro a fazer isso.
Os milicos largaram o poder no Brasil porque estavam exaustos de ficarem segurando as pontas e, ao mesmo tempo, serem culpados por tudo de ruim que acontecia.
Os militares não querem fazer uma nova ditadura. Durante mais de 30 anos, eles ficaram se comportando direitinho nos quartéis e cumprindo a Constituição. De 2013 para cá não faltaram, no antológico dizer de Castello Branco, "vivandeiras alvoroçadas que vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar". Criou-se um pequeno, mas aguerrido movimento pela intervenção militar - as famosas vivandeiras.
Apesar de toda a bolinação das vivandeiras, os milicos só sairam dos quartéis em busca de representatividade política legítima. Não foi por falta de provocação das vivandeiras que eles deixaram de dar o tal golpe. Acredito que foi por convicção e compreensão das conseqüências dos seus atos para o País.
Mas os milicos também não podem implantar uma ditadura agora, simplesmente porque o mundo mudou. Na época da Revolução de 1964 vivíamos uma Guerra Fria. Ou era uma ditadura militar ou comunista. Não tinha muita opção. Principalmente para um país periférico como o Brasil e sem tradições democráticas, com uma população analfabeta e sem opinião pública sólida.
O mundo mudou muito. Não seria mais possível implantar uma ditadura de direita. Ao contrário das ditaduras de esquerda, que continuam a brotar pelos rincões do mundo, sem que nenhuma organização internacional demonstre preocupação com a democracia e atue de forma efetiva. Vide o caso da ex-Iugoslávia, da Venezuela etc.
Os milicos ficaram por mais de 30 anos quietinhos nos quartéis. E agüentando tudo quanto é tipo de patifaria. Engolindo sapo. Agüentando comunista do Brasil como ministro da defesa. Agüentando Comissão da In-Verdade etc.
A luta contra o comunismo no Brasil não foi um episódio edificante. Foram cometidos excessos. Ou "malfeitos", como diria a Janete. Mas os excessos ocorreram de lado a lado. E, de mais a mais, no comparativo com as outras ditaduras da América Latina, para não falar sobre as ditaduras comunistas, a nossa dita foi bem mole.
Eu era jovem e participei da luta pela democracia, contra a censura, pelas eleições diretas e pela anistia, ampla, geral e irrestrita. Anistia de lado a lado. Foi um momento grandioso na História Brasileira. Foi um momento em que se criou uma opinião pública, um consenso nacional.
Os milicos não cairam na tentação de bater de frente com a opinião pública. Criaram a tal estratégia da "distensão lenta, gradual e segura". Foram tolerantes. E o negócio funcionou. Quando a anistia saiu, foi uma alegria geral. Ninguém reclamou. Ficou todo mundo feliz de botar uma pedra em cima daqueles episódios pavorosos.
Só que tem uma turminha de ressentidos que tomou conta do poder e monopolizou a opinião pública. Esses caras não apenas re-escreveram a História. Eles querem refazê-la. Tornar o feito (a anistia) em não-feito.
Não acho que os milicos tenham sido santos não. Guerra é um negócio muito sujo. É na guerra, principalmente, que os psicopatas cumprem sua função adaptativa. Em tempos de paz, eles só enchem a paciência dos outros. Vide os revolucionários de plantão. Como a turma do MST, que fica incendiando fazenda e matando vaca grávida e bezerrinho.
Mas os milicos agüentaram no osso. E encontraram um caminho político. Se os milicos não tivessem aprendido a valorizar a democracia, não haveria candidatura Bolsonaro. Não haveria tantas candidaturas militares como houve agora. Tudo indica que eles estão se dispondo a jogar o jogo democrático.
E a história está ficando muito engraçada. A ironia é que os milicos estão prestes a retornar ao poder, literalmente, carregados nos braços do povo. Para entender como isso está sendo possível, é importante considerar o que aconteceu com o fim do Regime Militar.
Quando o Regime Militar terminou, acabou a direita no Brasil. Todo mundo só era de esquerda. Direita virou palavrão, Virou anátema. O Lula chegou a comemorar numa determinada eleição porque todos os candidatos eram de esquerda.
O Brasil experimentou todas as alternativas de governo disponíveis à esquerda. Uma após a outra. Começamos pelo aventureirismo do Collor, voltamos ao coronelismo com o MDB, renovamos esperanças com o socialismo herbívoro do PSDB, para, finalmente, afundarmos com o socialismo carnívoro do PT. Todas essas alternativas fracassaram. Não temos mais nada à disposição. Não espanta que o Bolsonaro tenha crescido.
E tudo isso vem acontecende à hégide de uma Constituição dita cidadã, mas que, na verdade, promoveu um avanço do estado sobre a cidadania. Uma constituição que criou um monte de direitos para alguns, que não passam de obrigações para outros. Uma Constituição "maravilhosa", mas desprovida de um arcabouço institucional e de um tesouro para bancá-la. Uma Constituição estatizante que é um convite à corrupção. Uma Constiuição que privilegia os bandidos em detrimento dos cidadãos de bem.
Mas, principalmente, uma constituição que não foi assinada pelo PT e que, de lá para cá, já foi rasgada várias vezes por políticos de todos os partidos e, o que é pior de tudo, por ministros do Supremo Tribunal Federal, o seus supostos guardiões.
Nesse clima, não surprende que o Bolsonaro tenha crescido e tenha se transformado no fenômeno que se transformou. O Bolsonaro era um deputado do baixo clero que representava os interesses da caserna. Tudo muito legítimo. Era um cara destemperado e acabou se transformando em uma figura folclórica. Acabou usando isso para se promover.
E, de 2014 para cá, soube capitalizar como ninguém o sentimento antipetista que se desenvolvia na opinião pública. Os outros partidos poderia ter feito isso. Era o que se esperava, p. ex., do FHC e dos seus tucanos. Agora que a cobra está fumando, o FHC, mais uma vez, lavou as mãos e foi para Paris.
Por tudo isso que eu discuti acima, acho que o Bolsonaro não constitui uma ameaça real à democracia. A contrário. A direita representada pelo Bolsonaro é a única alternativa que os Brasileiros ainda não experimentaram após todas as outras terem sucessivamente fracasso nesses mais de 30 anos de Nova República.
Para o meu gosto, na verdade, a eleição do Bolsonaro vai representar um avanço democrático. Pode ser que o seu governo dê certo. Pode ser que não. Se o governo Bolsonaro não der certo, tenho certeza de que os brasileiros poderão e saberão escolher uma alternativa nas próximas eleições. O Brasil e sua imberbe democracia não acabarão com a eleição do Bolsonaro.
Muito diferente seria uma eleiçãodo PT. Acho que agora não vale à pena ficar gastando pólvora com chimango e falar mal do PT. Todo mundo conhece o PT. Todo mundo sabe que o PT tem um projeto totalitário de poder, do qual nunca desiste. Todo mundo sabe o que o PT faria se fosse eleito. A Venezuela e a Bolífica ficam ali do outro lado.
Todo mundo sabe o que PT fez: aparelhamento do estado, corrupção desenfreada, monopolização da opinão pública, lavagem cerebral nas escolas, tentativas reiteradas de censura etc. etc. Todo mundo sabe o que PT gostaria de ter feito e só não fez porque não pode. E não pode porque a opinião pública resistiu. Apesar de o Zé Dirceu sempre dizer e continuar dizendo, tintintim por tintintim, qual é o programa do PT.
Por que a opinião pública brasileira não teria condições de fazer o mesmo com o Bolsonaro, caso suas expectativas se frustrem? Por que a ditadura do Bolsonaro seria pior do que a ditadura do PT?
Mas o PT não é o único inimigo da democracia. Há uma série de organizações internacionais, fundações e até mesmo empresas cuja única agenda é promover o marxismo cultural. Esse pessoal é muito pernicioso.
Vivemos numa situação paradoxal. Por um lado, o FaceBook e outras midias internéticas nos servem de plataforma para expressar opiniões e criar uma opinião pública. Por outro, eles estão ressuscitando a censura. E o que é pior. A censura agora não é exercida pelo estado, mas sim por empresas monopolistas. Essa turma é uma ameaça muito maior à democracia do que o Bolsonaro. Meu consolo é que, entendendo como funciona o capitalismo, dá para prever que todo monopólio acaba tendo seu fim. Alguma coisa nova sempre surge.