Tem gente que fica o tempo todo se queixando do FaceBook
(FB), mas não sai do FB. O povo fala que o FB é pura perda de tempo, que só tem
abobrinha, que as pessoas só mostram o seu lado bom, o seu sorriso, a sua
felicidade conjugal, o seu consumo conspícuo, as suas férias maravilhosas no
exterior etc. Discordo radicalmente. Por mais que eu tente, não consigo botar
defeito no FB. O FB acabou virando a minha principal fonte de informação e
entretenimento.
A TV foi perdendo o atrativo para mim quando surgiram os
blogs de política, numa época em que se era obrigado a ouvir diariamente o Lula
ou a Dilma falando alguma asneira. Quando apareceu, o FB matou a pau. Combina
textos com fotos e vídeos. Substitui com vantagens todas as outras mídias.
Basicamente porque o usuário tem controle. Pode ler ou assistir apenas o que
lhe interessa. Pode deixar de seguir ou bloquear quem o perturbe.
Para o Brasil, o maior ganho propiciado pelo FB foi o surgimento
de uma verdadeira opinião pública. Uma opinião pública dividida, é claro, mas
uma opinião como não se via antes. De um lado os petralhas, do outro nós
coxinhas. Essa divisão não ocorre apenas no Brasil. Em outros países, como os
EUA, pode até ser pior.
Só vejo benefícios nesse abismo político que se criou entre
coxinhas e petralhas. Antes eu era obrigado a ficar ouvindo os petralhas
falando as maiores barbaridades e precisava ficar calado, fazendo de conta que
as asneiras que eles diziam eram normais. Isso acontecia em reuniões
familiares, entre “amigos”, na universidade etc. Havia um monopólio esquerdista
da opinião e quem ousasse contestá-lo era imediatamente acusado e sumariamente
julgado e condenado por lesa-humanidade.
Tudo isso mudou, graças ao FB. No FB, os conservadores
encontraram sua turma. Descobrimos que somos muito, que somos a maioria e que
não somos obrigados a ficar tolerando em silencio as barbaridades dos
descolados que se julgam os ungidos, os detentores da felicidade humana. Os
conservadores se reconhecem no FB, como boi preto conhece boi preto, no sábio
dizer de Clodovil.
E é bom que assim seja. Como as pessoas precisam conviver,
apesar das suas divergências políticas, lá pelas tantas elas vão acabar
encontrando alguma acomodação. Mas uma acomodação de fato, com concessões de
lado a lado. E não aquela situação prévia na qual os esquerdistas detinham o
monopólio da opinião e nós conservadores éramos obrigados a ficar escondidinhos
no armário. O FB nos permitiu sair do armário, confessar nossa verdadeira
natureza. E, surpresa, supresa, acabamos gostando do que vimos nos espelhos que
uns e outros nos fornecem.
Não fosse o acirramento dos ânimos políicos ocorrido nos
últimos anos e exacerbado pelo FB, nós conservadores iriamos continuar por
quanto tempo abaixando a cabeça e fazendo de conta que não professamos os
valores que professamos? Nos comportando como se nossos valores fossem uma
coisa criminosa, anti-humana?
Mas esse preâmbulo todo foi só para contextualizar o meu
tema atual, que são os efeitos pessoais do FB. Também nesse quesito o FB está
sendo ótimo. O FB permite que retomemos contatos com amigos de priscas eras,
com pessoas cujo contato havíamos perdido. Isso é extremamente reconfortamento
para uma pessoa como eu. Uma rês tresmalhada, que se desgarrou do pago há
décadas.
Através do FB retomei o contato com inúmeros amigos da minha
infância e juventude. E é impressionante o efeito que esse contato exerce. Em
alguns casos, aquela velha amizade se reacende. Em outros casos se acende uma
amizade previamente insuspeita. Finalmente, ocorre também a decepção de ver que
tomamos rumos diversos de velhos e caríssimos amigos. O que fazer? É da vida.
Sempre tem o recurso de deixar de seguir ou, até mesmo, de desfazer a amizade.
Uma antiga colega me perguntou, por exemplo, o que tinha
acontecido comigo. Eu que na Década de 1970 militava no movimento estudantil e
lutava contra a censura, pelas eleições diretas, pela liberdade sexual etc. e
todas as outras causas que moviam os jovens do meu tempo.
Comentei com a minha esposa e ela me falou assim: “Diga pra moça
que o que mudou foi tempo”. De fato, amadureci. O tempo passou. Continuo fiel
às mesmas causas democráticas. Mas perdi as ilusões com o socialismo e outros
projetos de reforma do mundo. Os quais sempre acabam em totalitarismo quando
não em genocídio.
Mas, se a perda de muitos velhos “amigos” é triste, ela é
por demais compensada pelo reconhecimento de novos amigos. Os tais amigos de FB,
esses desconhecidos que passam a fazer parte da nossa vida. Caras que não
conhecemos pessoalmente, mas que de tanto compartilhar experiências acabam se
incorporando à nossa vida.
Mesmo que à distância. Mas com um custo de oportunidade
muito baixo. Essa, aliás, é outra vantagem do FB. Dá para interagir com os
amigos a um custo mínimo, quer seja em esforço físico ou desgaste emocional. O
amigo está de aniversário, manda-se parabéns. Morreu a sogra, expressa-se o
nosso pesar. O amigo publicou um artigo, merece uma curtida etc. Tudo isso sem
precisar sair da cama...
A coisa funciona assim: Um amigo compartilha um comentário
de uma pessoa da sua rede de relacionamento. Acho o comentário inteligente ou
engraçado. Entro na página do cara para
conferir e, se gosto do que vejo, peço amizade.
Assim conheci muita gente legal através do FB. Gente pobre,
rica, jovem, velha, saudável, doente, inteligente ou menos inteligente etc. Uma coisa,
entretanto, é essencial, o humor. Sem humor não dá. Não tenho amigos
mal-humorados, nem no FB.
De tanto compartilhar as experiências, ler as piadas ou os
textos acaba-se conhecendo a pessoa. Quando acontece alguma coisa, fico
pensando o quê o fulano vai dizer no FB, como ele vai reagir. Ora, o que me
interessa a opinião do fulano, uma pessoa que mora lá do outro lado do País ou
do Mundo e que nunca vi mais gordo na minha frente? Quando eu tenho essa
experiência, adquiro confiança de que trata-se de um amigo, um amigo de FB, mas
um amigo. Pode realmente ser alguém que eu nunca venha a encontrar. Mas é
alguém com quem estou compartilhando experiências e me informando.
Os maldizentes asseveram que no FB as pessoas são falsas,
que só exibem o seu melhor lado, que só contam vantagem, que são superficiais
etc. Nada mais falso. O FB é como se fosse um grande consultório. Quanto mais
as pessoas tentam se esconder, mais elas revelam. Também não é verdade que as
pessoas só exibam seu lado cor de rosa. Dá pra saber direitinho quem é ansioso,
deprimido ou anti-social. Por vezes fico constrangido ao ver o quanto as
pessoas se revelam. Mas, o que fazer? Também é da vida.
O Vinicius de Morais dizia que a gente não faz amigos,
reconhece-os. Nada mais verdadeiro. Algumas pessoas na nossa rede de relações
no FB são amigas justamente porque são reconhecidas como tais. E são
reconhecidas assim pelo que revelam a seu respeito. Por fazer vibrar uma corda
que também existe na nossa alma.
Com isso chego ao fim dessa minha peroração. Só
queria homenagear os amigos do FB. Esses desconhecidos com os quais
interagimos, com quem nos consolamos, divertimos e aprendemos e por quem
acabamos nos importando. Ainda que à distância. Apesar de que, na maioria dos
casos, seja bastante improvável que venhamos a nos encontrar. Ou quem sabe,
justamente por causa disso. Os amigos de FB enriquecem a nossa experiência
humana. Ampliam nossa network a um custo muito baixo de oportunidade.
Excelente texto!!!!
ResponderExcluirProfessor, por favor poderia escrever a sua opinião a respeito das postulações de Carl Hart a respeito da drogadição? Desde já agradeço.
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