domingo, 30 de julho de 2017

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PAÍS DO FUTURO

Era uma vez um país muito pobre, mas com muito futuro. Um país caracterizado pela miséria e desigualdade social. Alguns tinham muito, incluindo riqueza e educação pública da melhor qualidade que o estado conseguia oferecer, e muitos não tinham nada. Os muitos viviam na ignorância e eram facilmente presa de políticos populistas inescrupulosos que haviam se apossado do estado há mais de quinhentos anos. Como eram muito necessitados, os muitos votavam em políticos safados que lhes prometiam o Céu na Terra, o que contribuía para perdurar a miséria e a ignorância. Esse regime consistia uma forma de patrimonialismo, mas se disfarçava sob a designação de capitalismo selvagem.

O povo vivia na miséria e na ignorância, contrastando com a abundância de recursos naturais do país, principalmente terras e mais terras agricultáveis, minérios, uma flora e fauna diversificadíssimas, incluindo muita saúva etc. A ignorância era causada, em grande parte, pela falta de acesso a escolas. Mas, mesmo quando conseguiam ir a alguma escola, as crianças não aprendiam. Teimavam em não aprender.

Aí apareceu um educador iluminado. Um pedagogo messiânico e barbudo que fez um diagnóstico. A idéia do cara era a seguinte. As crianças não aprendiam porque os métodos e materiais usados e habilidades ensinadas na escola eram muito distantes da sua realidade cultural, do seu dia a dia. As crianças não aprendiam porque as atividades propostas pelos professores enão faziam sentido para elas. A escola funcionaria assim como mais um aparelho de dominação ideológica, cuja função não seria ensinar, mas sim discriminar. Colocar os pobres no seu lugar e mantê-los na ignorância e na miséria. Além de humilhá-los pela sua incompetência. Esse último aspecto recebia o nome de complexo de vira lata. Esse último era o aspecto mais perverso do sistema, a desvalorização e o desrespeito à cultura  originária das crianças.

O diagnóstico do grande educador teve ampla aceitação nacional. Mais aceitação ainda tiveram as soluções que ele propôs. O messias rousseauniano foi perseguido pelas forças da reação, teve inclusive que viver exilado um bom tempo, mas gradualmente suas idéias se impuseram. As idéias do pedagogo barbudo impregnaram tanto a formação e prática dos professores que, lá pelas tantas, ele chegou a ser nomeado patrono da educação nacional. É forçoso reconhecer, entretanto, que o programa educacional do notório educador somente foi implementado a partir do momento em que um demiurgo, o Sapo Barbudo assumiu o poder. O Sapo Barbudo se notabilizou por atingir a perfeição do ideal de não aprender nada na escola, ou seja, o grau zero do conhecimento, a ignorância suprema.

A receita do novo Grande Conselheiro da educação, implementada de modo acelarado pelo Sapo Barbudo, era simples. Sempre um remédio simples, milagroso e ineficaz para um problema complexo. Se as crianças não aprendiam porque a escola não tinha esse objetivo, constituindo-se apenas numa máquina opressiva e alienante, então havia necessidade de uma mudança radical na mentalidade dos professores e nas finalidades da escola. A escola parou de instruir e os professores deixaram de ser conhecidos por esse nome e passaram a ser chamados de educadores.

Segundo o gênio, a missão dos professores precisava ser desvirtuada. A educação não consistiria apenas da  preservação, expansão e transmissão do estoque de conhecimentos das gerações passadas para as futuras. A missão da educação seria muito mais nobre e ambiciosa. Seu objetivo seria despertar a consciência dos educandos. Abrir os seus olhos para o sistema iniquo sob o qual viviam, despertar para a possibilidade de construção de uma nova realidade. Tipo assim, um Céu na Terra através da luta política. A missão da educação se despiu então das tecnicalidades que a tornavam opressora e apenas serviam aos interesses dos estamentos sociais dominantes e assumiu um caráter inovador, libertador. A missão da educação foi equalizada à luta política.

Diversas modificações nos conceitos e práticas educacionais se seguiram a esse insight do barbudão iluminado. Os educadores pararam de transmitir conhecimento e começaram a perguntar às crianças e jovens o quê e como eles queriam aprender. Passaram a ter voz ativa na definição de um currículo mais próximo da sua realizade e mais afastado da cultura superior. Como ninguém ensina nada a ninguém, rompeu-se a hierarquia entre o professor, que deteria o suposto saber, e o aluno, que almejaria a esse suposto saber. Ambos, educadores e educandos passaram a construir socialmente o conhecimento, através da troca de experiências e valorização da subjetividade e especificidades culturais das crianças e jovens. O ensino abandonou a aspiração de desenvolver as capacidades de raciocínio abstrato e generalização das crianças e jovens, de acesso à cultura superior como veículo de ascensão social.

As próprias noções de cultura superior e ascensão social passaram a ser duramente criticadas. Falar em cultura superior significaria desvalorizar a cultura popular, a qual é tão ou mais legítima do que qualquer outra. A cultura popular não precisaria apenas ser valorizada, mas deveria mesmo se sobrepor à cultura superior dominante, capitalista, patriarcal e opressiva. As crianças e jovens são incentivados a continuar falando e escrevendo “nóis pega os pexe”. A ascensão social virou anátema. Afinal, trata-se apenas de uma aspiração pequeno-burguesa que se tornará desnecessária após a redenção pelo socialismo.

A aprendizagem tornou-se muito mais atraente e divertida para as crianças. Os educadores fizeram um esforço enorme para situar o processo de aprendizagem na cultura e no contexto de vida da criança. Usaram e abusaram de materiais concretos, atividades divertidas, colaboração em grupos, descoberta pela experiência etc. Os educadores foram proibidos de instruir formalmente e de corrigir as crianças. A atividade, os esforços por descobrir e a capacidade de insight da criança deveriam ser valorizadas, transformando-se em veículo único da educação. Aboliu-se o sistema de notas e de retenção de ano escolar por desempenho insuficiente. As crianças  passaram a ser promovidas automaticamente, independentemente do que aprendessem, para acompanhar sua turma e não ser discriminadas. O descaso pela cultura superior foi incensado como uma forma de resistência à opressão. Por que perder tempo com música clássica se o funk é o supra-sumo da musicalidade? Com isso, a educação deixou de ser uma atividade elitista, mecânica, repetitiva e enfadonha, sendo valorizada a cultura popular e a construção dos conceitos pela própria criança e pelos jovens.

E o meio singular para essa construção do conhecimento é a atividade social contextualizada na vida cotidiana. Situada na própria cultura da criança. Afinal, ao acessar a cultura superior, adquirir habilidades de raciocínio abstrato e generalização, o indivíduo transforma-se automaticamente de oprimido em opressor. Com isso a educação atingiria mais um objetivo: Deixaria de funcionar como uma fábrica tanto de oprimidos quanto de opressores e se reduziria à celebração da cultura popular. A educação passou a se recusar a reproduzir as relações de poder vigentes na sociedade, problematizando-as e promovendo o empoderamento dos alunos.

Os resultados não apareceram de uma hora para outra. Foi um processo gradual, mas a transformação social preconizada pelo grande líder primeiro energúmeno e implementada mais decisivamente pelo segundo acabou por se impor. Correndo o risco de não ser exaustiva, é apresentada a seguir uma lista de algumas das realizações educacionais do nosso país do “era uma vez”. As grandes realizações educacionais do país do futuro podem ser sistematizadas, ainda que de forma grosseira, em duas grandes categorias: a) comportamentais ou éticas, e b) cognitivas ou epistemológicas.

Comportamento

As mudanças comportamentais inspiradas pelo grande educador barbudo, ainda que não apenas por ele, foram radicais. Sim, a glória não deve ser atribuída apenas ao grande energúmeno. Talvez ele seja apenas representativo de uma era. Mas um representante muito ilustre. Também não se pode atribuir todo o mérito à escola. As famílias também detêm o seu quinhão de glória. As interações entre família, escola e estado são bem complexas e se retroalimentam. P. ex., as famílias constituídas em gerações sucessivas são formadas por indivíduos que se educaram nas escolas. O estado, por sua vez, regula a formação e atividade dos professores, fingindo que os paga e estabelecendo rigorosamente o quê e como eles não devem ensinar. Ao mesmo tempo, o estado assiste às famílias despossuídas do mínimo compatível com uma existência digna com compensações monetárias, de modo que elas possam sobreviver apenas desconfortavelmente, sem contudo, desenvolver aspirações à ascensão social pela educação e trabalho árduo.

O tecido social foi bordado a partir de um recorte realmente inovador. Como ninguém ensina nada para ninguém e como as relações entre educador e educando não devem ser hierárquicas, as práticas disciplinares na escola (e na família também por via de conseqüência) se tornaram obsoletas. Os resultados tardaram um pouco, mas não deixaram de se manifestar. A criminalidade aumentou de tal forma que o pequeno-burguês não pode mais sair à rua. Vive-se um clima de conflagração civil, no qua o assassinato é uma das principais causas de mortalidade entre homens jovens. Como a escola não ensina nada a ninguém, os jovens a abandonam e vão consumir e traficar drogas, uma atividade muito mais lucrativa. O tráfico cresceu tanto que tem sua própria representação parlamentar e constitui “no go zones” nas grandes cidades. Impérvias à atuação do estado. Enquanto a polícia foi criminalizada pela imprensa a ponto de também não mais poder exercer o seu mister, a população é tolerante e o estado se recusa a punir movimentos ditos sociais que invadem e depredam patrimônio público e privado.  

As mudanças comportamentais e éticas se manifestaram também na família. Eu tinha me esquecido de contar. Mas, essa doutrina de que a educação não se reduz à transmissão de conhecimento e de que ninguém ensina nada a ninguém teve sua validade restrita ao domínio da disciplina e da cognição. No domínio da da sexualidade e da família, é diferente. Como as famílias são compostas por pais ignorantes, alienados e aferrados a valores religiosos tradicionais, a escola precisou assumir esse aspecto da instrução das crianças. O ensino de religião, de qualquer religião, foi abolido nas escolas públicas em nome do estado laico. As aulas de educação sexual desacreditaram os pais, promovendo a sexualização precoce, a gravidez na adolescência, o comportamento promíscuo, as doenças sexualmente transmissíveis e a dissolução dos vínculos familiares.

Cognição

O projeto educacional do demiurgo e do seu séquito resultou em avanços notáveis na área da cognição também. Como a missão da escola não era mais transmitir conhecimento. De fato, as crianças e jovens pararam de aprender e de se preparar para o mercado de trabalho e para a ascensão social. Uma maneira de aquilatar essas realizações pode ser o exame dos resultados obtidos pelos jovens na prova de matemática do PISA 2015 (Brazil, Ministry of Education, 2016, vide Figura 1).

Figura 1 – Desempenho em matemática dos jovens do país do futuro no PISA 2015

A Figura 1 mostra que 44% dos jovens de 15 anos do país não conseguiam atingir o Nível 1 de desempenho em aritmética considerado pela OECD. Ou seja, mais de 40% dos jovens com 10 anos de escola nas costas não conseguem atingir o nível de desempenho em matemática esperado para crianças após quatro anos de escolarização. Na média, 8,47% dos jovens dos países da OECD não atingiram o desempenho no Nível 1. Esse Nível 1 foi atingido por apenas 27% das crianças comparativamente a 14,89% na média dos países da OECD. O resultado é simplesmente brilhante. Uma outra maneira de expressar esses resultados consiste em dizer que o desempenho em matemática de 75% dos jovens do país do demiurgo situou-se na faixa dos quartil inferior dos demais países. O desempenho comparativo demonstra a eficácia relativa em relação aos demais países do mundo no intuito de não ensinar nadica de matemática para as crianças e jovens.

Disclaimer e conclusão

Como já foi mencionado anteriormente, não seria justo atribuir todo o sucesso da empreitada educacional do país do futuro apenas ao Grande Conselheiro educacional e ao seu operador. Isso seria uma verdadeira injustiça. A conjuntura é bem mais complexa e a dinâmica história compartilhada em nível mundial, sendo o programa do Grande Conselheiro inclusive adotado por organizações internacionais tais como a UNESCO. É mais prudente tomar os dois barbudos como símbolos de uma época, como dignos representantes de uma mentalidade e de uma prática política.

Não se pode aderir a diagnósticos simplistas das grandes realizações sociais. O processo histórico depende de uma confluência de forças vivas incluindo o estado, a escola e, principalmente, a família. As ideologias também têm o seu quinhão de responsabilidade. Não se  pode esquecer que os ungidos lutam contra as forças reacionárias do patriarcado, capitalismo etc. O jogo é duríssimo.  Só que não tem responsabilidae alguma pelo seu destidno é o indivíduo, uma vez que a subjetiva é justamente apenas mais uma construção social.

A bem da verdade, deve-se considerar também a hipótese de que o programa do Grande Conselheiro educacional não tenha sido implementado na sua melhor forma. Afinal, nem o Sapo Barbudo nem seus acólitos educacionais são perfeitos. Os resultados estão longe da perfeição e poderiam ser melhores ainda. Pode-se afirmar sem medo de errar que o apenas o programa real do patrono da educação foi implantado, o qual fica muito aquém do seu programa ideal. Mas não é caso para esmorecer. Com renovados esforços e perseverança o país do futuro haverá de atingir sua meta, ou seja o grau zero da civilização. Daí terá chegado a hora de construir um novo homem, uma nova sociedade, mais humana e mais justa. Enquanto isso os cadáveres vão se empilhando na beira da estrada da educação. Mas isso não importa, todas as grandes realizações histórias implicam algum custo humano. Ao menos o gigante despertou. A alternativ seria continuar recostado em berço esplêndido.

Referência

Brazil, Ministry of Education (2016). Brazil in PISA 2015. Executive Summary. Brasília: Autor (https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0ahUKEwjE2an32bHVAhUBOJAKHdsfDZAQFggpMAE&url=http%3A%2F%2Fdownload.inep.gov.br%2Facoes_internacionais%2Fpisa%2Fdocumentos%2F2016%2Fbrazil_in_pisa_2015_digital.PDF&usg=AFQjCNFPXU55omGLTUV_gqZ6KBR942jPUA).

quarta-feira, 26 de julho de 2017

PROTESTOS UNIVERSITÁRIOS: O QUE ACONTECE QUANDO A REITORIA RESOLVE CUMPRIR A LEI?

No final do ano passado as escolas e universidades brasileiras foram tomadas de assalto por bandos de estudantes (não seriam malfeitores?), os quais estariam supostamente protestando contra as medidas de controle orçamentário então propostas pelo governo do “golpista” Michel Temer.

Colegas estudantes, professores, e pacientes atendidos em serviços clínicos universitários foram coagidos por essa turba, muitos verbal e até mesmo fisicamente agredidos. Tudo isso sob o olhar complacente das autoridades universitárias e do próprio Ministério Público. Os quais optaram por não “criminalizar” as invasões. Ou seja, não tratar os crimes de esbulho de propriedade pública e coação como tais. Quando quis dar minha aula e fui impedido de entrar no prédio, uma moça me mostrou um acordo que os invasores teriam feito com o Ministério Público Federal.
 
Agenda dos invasoes da FAFICH-UFMG em outubro/novembro de 2016

É difícil compreender as razões pelas quais essas autoridades abriram mão do zelo pela propriedade pública e pelo funcionamento das instituições públicas que lhes foi legalmente confiado.  Em alguns casos é possível suspeitar que as autoridades não fossem apenas coniventes, mas que elas próprias estivessem fomentando e liderando essas invasões  com o intuito de promover uma determinada agenda política. De forma autoritária e anti-democrática, desconsiderando os direitos e as obrigações de professores/funcionários públicos que não compartilhavam dessa agenda.

Uma coisa muito parecida está acontecendo nos EUA. Os motivos alegados para as manifestações intolerantes e agressivas de estudantes divergem nominalmente dos nossos em alguns pontos. Lá nos EUA eles não estão preocupados com o “góipi do Temer”. Mas ambas turbas, aqui e lá, compartilham causas relacionadas com a diversidade étnica e de gênero. Não deixa de ser surpreendente que eles advoguem por diversidade apenas nesse leque estrito de dimensões, esquecendo que a diversidade política e religiosa também é constitutiva da personalidade. E isso não acontece apenas no Brasil e EUA. A semelhança de agenda entre diversos países é tão grande que dá para desconfiar que muitas dessas reinvindicações tenham sido importadas dos gringos imperialistas. A nossa esquerda não tem imaginação nem para criar sua própria agenda.

A conivência, quando não co-responsabilidade, das autoridades universitárias nos EUA é também muito clara. O roteiro é mais ou menos estereotipado. Alguém inadvertidamente faz um comentário que é tomado como ofensa por outra pessoa. P. ex., não se pode dizer que “Os EUA são um cadinho de culturas” porque isso supostamente impõe uma normatividade cultural anglo-saxã, desvalorizando as identidades culturais específicas. Também não se pode falar que “Os EUA são uma terra de oportunidades” ou que “Alguém apresenta uma determinada opção sexual” porque, respectivamente, os escravos africanos trazidos à força não tiveram qualquer oportunidade e porque a pessoa não escolhe mas, sim, nasce com uma determinada orientação sexual.

Essas observações, na maioria das vezes inadvertidas, constituem “triggers” para microagressões. Ou seja, são tomadas como ofensas e denunciadas às autoridades universitárias. As normas de diversidade estabelecidas pela administração das próprias universidades obrigam os seus responsáveis administrativos a investigarem a fundo cada uma dessas denúncias, sem que haja necessidade de qualquer critério objetivo para adjudicar entre o que aconteceu e o que não aconteceu. Ou seja, denúncias baseadas em auto-relatos subjetivos são processadas como se correspondessem à realidade objetiva.

Com isso ignora-se que essas denúncias possam ser manipuladas, sendo instrumentalizadas em favor de uma determinada agenda política ou em favor de necessidades psicológicas específicas dos acusadores. Levar em consideração essa possibilidade não é uma opção porque significaria “blame the victim”. O resultado é que os acusados são tratados como criminosos, sendo processados em um rito sumário, sem direito ao devido processo legal. Os desfechos freqüentemente consistem de suspensão, expulsão ou treinamento em sensibilidade étnica ou diversidades (leia-se lavagem cerebral).

Uma variante do roteiro é implementada quando algum convidado conservador está programado para falar no campus. Nunca faltam grupos de estudantes que se sintam ofendidos e temerosos do quê eventualmente os malvadões conservadores venham a dizer. Essa turma exige então que as universidades revoguem os convites ou que providenciem “safe spaces” nos quais os estudantes melindrados possam se sentir mais confortáveis. Isso para não falar daqueles casos nos quais a turba parte para a pancadaria em cima dos convidados.

Essa história se repete sob a complacência das autoridades universitárias há mais 50 anos. Mas, nos últimos anos houve um recrudescimento dessa histeria. O público em geral não compreende o que está acontecendo. Tudo parece uma grande loucura. Parece que, quanto menos racista, sexista e  homofóbica a universidade se tranforma na realidade, mais besteirada esse pessoal inventa para ficar se queixando da vida.

Não é à toa que essa geração está sendo carcterizada como mimimadinhos. E não sou apenas eu que digo isso. Nas palavras do próprio Barack Obama, o seu líder supremo, felizmente destronado:

“I’ve heard of some college campuses where they don’t want to have a guest speaker who is too conservative or they don’t want to read a book if it had language that is offensive to African Americans or somehow sends a demeaning signal towards women. I’ve got to tell you, I don’t agree with that either— that when you become students at colleges, you have to be coddled and protected from different points of view” (Barack Obama, 2015, cit. in Zimmerman, 2016, p. 103).

Casos famoso envolveram personagens tão diversas quanto Milo Yannapoulos, Christina Hoff Sommers, Charles Murray etc. O que fazem as autoridades universitárias? Nada no sentido de enquadrar os estudantes agressores no rigor das normas de boa conduta. Tudo no sentido de fomentar essa bagunça. Milhões e milhões de dólares são destinados a criar “safe houses”, dispositivos de “trigger warnings”, programas de reeducação dos microagressores, programas de terapia para os microagredidos etc. etc. Até agora os únicos resultados têm sido um crescimento astronômico das mensalidades e o cerceamento à liberdade de pensamento. Justamente na universidade, onde se supunha que o debate entre posições divergentes deveria ocorrer de forma acadêmica e civilizada.

Eu sempre ficava me perguntando assim: O que aconteceria se algum dia, a administração de alguma universidade resolvesse bancar a parada e dar um fim a essa histeria coletiva? Pois não é que alguém fez isso, com resultados nem tão surpreendentes assim.

Em abril de 2016 uma turba invadiu a reitoria da Ohio State University (assista ao vídeo) e exigiu ser recebida pelo reitor para apresentar suas reinvindicações. Sempre aquela mesma pauta politicamente correta das microagressões etc. Eram cerca de 100 alunos. Houve  muita confusão e um princípio de tumulto. O reitor avisou que não iria conversar com eles e que os receberia somente mediante agendamento prévio. A maioria dos alunos resolveu ir para casa. Mas um grupo de cerca de uma dúzia resolveu ficar para passar a noite.

  Funcionário da Ohio State Univesity explicita a política da universidade para a turba invasora
(Abril de 2016)
Um representante da reitoria veio então e anunciou para os estudantes que eles deveriam desocupar o prédio até às cinco da manhã. Usou o próprio veneno dos estudantes contra eles: O reitor e demais funcionários administrativos estavam se sentido coagidos (microagredidos?) e ameaçados pelos estudantes. Às sete horas da manhã deveria começar o novo expediente da reitoria e o reitor queria garantir a segurança física e emocional dos funcionários. Eles deveriam então desocupar o prédio, caso contrário seriam presos e expulsos da universidade.

Alguém perguntou o que a polícia faria. A resposta foi que, em duplas os policiais pegariam cada um dos estudantes e os levariam para o camburão. Dessa forma eles poderia experimentar a sensação de serem presos lutando em prol da sua (seja lá qual fosse) causa.

Parabéns, ainda que atrasados, a Michael Drake M.D., magnífico reitor da Ohio State University. Tomara que essa moda pegue e seja importada para o Brasil.

Michale V. Drake, M.D.
Magnífico reitor da Ohio State University

Referência

Zimmerman, J. (2016). Campus politics. What everyone needs to know®. New York: Oxford University Press.