A esquerda tomou conta de uma tal forma da nossa cultura que
seus pressupostos nos parecem a coisa mais natural do mundo. Quando percebemos
isso, dá arrepios mas ao mesmo tempo parece uma verdadeira epifania. Com o perdão do clichê, a sensação é de
sair da Caverna de Platão.
As comparações culturais procuram identificar e analisar
tanto as semelhanças quanto as diferenças. A antropologia evolucionista se
interessa pelos dois, os universais e os particulares. Ambos são interpretados
à luz das teorias da evolução por seleção natural e por seleção sexual. A
pergunta é como as diversas culturas se
estruturam para promover os interesses darwinianos do seu pool de genes. Os
universais culturais são interpretados como constrições biológicas e as
especificidades como soluções singulares, adaptativas em diferentes ecologias.
A antropologia cultural foca mais nas diferenças entre as
culturas. Não tenho nada contra as diferenças. A diversidade é o fenômeno
biológico básico conforme Dobzhansky e ajuda a preservar o pool de genes em
face das imponderabilidades ecológicas. A bronca que eu tenho com a
antropologia cultural é que, da identificação das especificidades ao
relativismo é um pulo simples e rápido demais.
O relativismo cultural, por sua vez, nos leva à aceitação de
verdadeiras monstruosidades – a partir da perspectiva ocidental – tais como o
infanticídio de bebês malformados, a opressão das mulheres e gays, o estupro, a mutilação
genital feminina, a pedofilia, o totalitarismo e o terrorismo etc. Além de ser
auto-contraditório, o relativismo corrói por dentro os fundamentos da nossa
cultura, judaico-cristã e ocidental. Nossa Cultura Ocidental é muito
defeituosa, mas comparada com o quê? - como diz o Thomas Sowell. Com um ideal
angelical ou com a realidade da vida?
Não foi sem surpresa, portanto, que assisti recentemente à
conferência do antropólogo social Flávio Gordon intitulada "Técnicas de hegemonia: o ativismo da esquerda cultural".
A conferência se baseia em uma pesquisa acadêmica minuciosa e sofisticada na
qual o autor utiliza uma abordagem antropológica para analisar a hegemonia
cultural esquerdista. As táticas hegemônicas culturais dos intelectuais
esquerdistas remontam, pelo menos, ao Iluminismo Francês do Século XVIII. Já
naquela época os intelectuais agiam como que de forma concertada para
assassinar as reputações dos adversários da sua agenda anti-valores ocidentais.
O
autor reconta a história, para a qual Olavo de Carvalho já
havia chamado atenção, de como o antigo PCB monopolizou a opinião
jornalística
a partir do final dos Anos 1950 e de como a partir dos Anos 1960 a
agenda
anti-família e anti-ocidental proposta pela Escola de Frankfurt e pelos
pós-modernos franceses tomou de assalto a TV, o teatro, a música
popular, a
universidade, toda a cultura brasileira enfim. Os novos guerrilheiros
culturais eram interpretados como "esquerda festiva" pelo Regime Militar
e deixados quase à vontade, uma vez que os milicos estavam mais
preocupados com os terroristas.
Ele propõe uma tipologia das estratégias manipulativas
utilizadas, p. ex., pela mídia. Algumas das categorias manipulativas
identificadas por Flávio Gordon são:
1. Inversão: “Israel suspende trégua de 24 horas após Hamas disparar mísseis”;
2. Nivelamento: “Mais um negro é morto pela polícia
em NY”;
3. Marcação:
“Dois morrem a facadas na Cidade Velha de Jerusalem”; “Polícia Israelense
proíbe palestinos de acessar Cidade Velha de Jerusalem”;
4. Intransitividade maliciosa: “Senador da oposição,
considerado ultraconservador, é o primeiro político a se candidatar...”.
Além das manchetes jornalístgicas, a conferência é ilustrada com vídeos
extraídos de programas da Globo, os quais são verdadeiramente chocantes. O
público é inundado por mensagens ideologicamente desabridas, de cunho mais
doutrinário do que artístico ou informativo, promovendo a agenda do aborto,
transgenderismo, promiscuidade, sexualização precoce, glamourização da doença
mental, conflito de classes etc. Todos esses hot topics são tratados como se
houvesse um consenso óbvio a seu respeito e como se agenda descolada fosse um
dado implícito da realidade. Como se o aborto, p. ex., fosse um direito
natural.
Assistindo a esses vídeos captei da forma mais vívida possível
a essência da cultura. Cultura é tudo aquilo que nos impregna de forma
implícita e confere um tom de naturalidade à nossa experiência. A identificação
e crítica dos pressupostos subjacentes à hegemonia cultural esquerdista tem um
caráter epifânico. A minha experiência revelada diz respeito ao tempo que todos
nós já perdemos e continuamos perdendo com essas bobagens que não levam a nada
que preste. E o quanto essa bobajada maligna impregna o nosso modo de pensar. A
ponto de ser cada vez mais difícil obter
um distanciamento crítico.
Eu parei de ver televisão há muito. Não tenho a menor idéia
do que está rolando. Acho que essa foi a razão maior do meu choque. Mas fico
imaginando que a maioria da população fica se deixando inebriar por esses
valores anti-família e anti-ocidentais. Como se a cultura do morro carioca
fosse uma metonímia do Brasil.
Flávio Gordon acredita também que está ocorrendo um divórcio
progressivo entre a agenda politicamente descolada da esquerda caviar e os
valores conservadores subscritos pela maioria da população. Essa idéia de
coming apart já havia sido proposto pelo Charles Murray. Murray fez uma extensa
pesquisa mostrando como pessoas de níveis sócio-educacionais distintos estão
cada vez mais se afastando e se agregando em subculturas. Há evidências indicando
que um refluxo dos valores anti-ocidentais entre as pessoas mais educadas e
desagregação progressiva da família e do tecido social nas classes menos educadas.
P. ex., a estabilidade matrimonial aumentou nas últimas décadas entre os mais
ricos e educados e diminuiu entre os mais pobres e menos educados. O pior é
que, como essas diferentes castas estão geográfica e socialmente separadas,
elas pouco convivem e poucas oportunidades têm de trocar experiências. Cria-se
um verdadeiro apartheid.
Os
descolados estariam forçando demais a barra e um dia a bomba poderia
estourar na sua mão. Não sei não. Tenho receio de que água mole em pedra
dura,
tanto bate até que fura. É possível suspeitar que a insistência com a
qual as fake news esquerdistas são repetidas acabe transformando-as em
verdades. A seguir a toada, a longo prazo seremos sufocados pelo
esquerdismo cultural. Perdemos progressivamente a capacidade de crítica e
aceitamos como “naturais” idéias espatafúrdias. Um mundo caracterizado
por algum tipo de ordem moral e religiosa está sendo substituído por um
mundo profano, despido de conteúdo para os seres humanos. Será que um
dia as pessoas se darão conta do engodo? É por estes motivos que
apreciei tanto a conferência do Flávio Gordon. A situação está osca.
Mas, por
mais osca que esteja, sair da Caverna de Platão – com o perdão, mais uma
vez,
do clichê – é o primeiro passo para a liberdade.
O que me consola é que há toda uma geração de jovens
intelectuais muito inteligentes e preparados, que saíram do armário e estão nos
ajudando a desconstruir as relações de poder subjacentes ao discurso
esquerdista. As redes sociais na internet criaram um nicho de atuação para
esses jovens blogueiros e youtubers. É uma pena que eles estejam alijados da
Universidade. A Academia se ressente da sua ausência. As universidades mundiais
e brasileiras sucumbiram à mesmice esquerdista. Transformaram-se em antros de
auto-complacência para os ungidos de esquerda. Para aqueles inteligentinhos do
Pondé ou ungidos do Sowell, que foram iluminados pela verdade e são detentores
da solução para os problemas da Humanidade.
Parece mesmo que existe um teto de vidro, que impede a
inserção e ascensão acadêmica de intelectuais conservadores. Enquanto esse bloqueio não for furado, a coisa não vai mudar. Ainda
vamos ter muito trabalho nos blogs e redes sociais.
Referência
Gordon, F. (2017). Técnicas de hegemonia: o ativismoda esquerda cultural. Campina Grande, PB: Instituto Borborema.
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