No final do ano passado as escolas e universidades brasileiras
foram tomadas de assalto por bandos de estudantes (não seriam malfeitores?), os
quais estariam supostamente protestando contra as medidas de controle
orçamentário então propostas pelo governo do “golpista” Michel Temer.
Colegas estudantes, professores, e pacientes atendidos em
serviços clínicos universitários foram coagidos por essa turba, muitos verbal e
até mesmo fisicamente agredidos. Tudo isso sob o olhar complacente das autoridades
universitárias e do próprio Ministério Público. Os quais optaram por não “criminalizar”
as invasões. Ou seja, não tratar os crimes de esbulho de propriedade pública e
coação como tais. Quando quis dar minha aula e fui impedido de entrar no
prédio, uma moça me mostrou um acordo que os invasores teriam feito com o
Ministério Público Federal.
Agenda dos invasoes da FAFICH-UFMG em outubro/novembro de 2016
É difícil compreender as razões pelas quais essas
autoridades abriram mão do zelo pela propriedade pública e pelo funcionamento
das instituições públicas que lhes foi legalmente confiado. Em alguns casos é possível suspeitar que as
autoridades não fossem apenas coniventes, mas que elas próprias estivessem
fomentando e liderando essas invasões
com o intuito de promover uma determinada agenda política. De forma
autoritária e anti-democrática, desconsiderando os direitos e as obrigações de professores/funcionários
públicos que não compartilhavam dessa agenda.
Uma coisa muito parecida está acontecendo nos EUA. Os
motivos alegados para as manifestações intolerantes e agressivas de estudantes
divergem nominalmente dos nossos em alguns pontos. Lá nos EUA eles não estão
preocupados com o “góipi do Temer”. Mas ambas turbas, aqui e lá, compartilham
causas relacionadas com a diversidade étnica e de gênero. Não deixa de ser
surpreendente que eles advoguem por diversidade apenas nesse leque estrito de
dimensões, esquecendo que a diversidade política e religiosa também é
constitutiva da personalidade. E isso não acontece apenas no Brasil e EUA. A
semelhança de agenda entre diversos países é tão grande que dá para desconfiar
que muitas dessas reinvindicações tenham sido importadas dos gringos
imperialistas. A nossa esquerda não tem imaginação nem para criar sua própria
agenda.
A conivência, quando não co-responsabilidade, das
autoridades universitárias nos EUA é também muito clara. O roteiro é mais ou
menos estereotipado. Alguém inadvertidamente faz um comentário que é tomado
como ofensa por outra pessoa. P. ex., não se pode dizer que “Os EUA são um
cadinho de culturas” porque isso supostamente impõe uma normatividade cultural
anglo-saxã, desvalorizando as identidades culturais específicas. Também não se
pode falar que “Os EUA são uma terra de oportunidades” ou que “Alguém apresenta
uma determinada opção sexual” porque, respectivamente, os escravos africanos
trazidos à força não tiveram qualquer oportunidade e porque a pessoa não
escolhe mas, sim, nasce com uma determinada orientação sexual.
Essas observações, na maioria das vezes inadvertidas,
constituem “triggers” para microagressões. Ou seja, são tomadas como ofensas e
denunciadas às autoridades universitárias. As normas de diversidade
estabelecidas pela administração das próprias universidades obrigam os seus
responsáveis administrativos a investigarem a fundo cada uma dessas denúncias,
sem que haja necessidade de qualquer critério objetivo para adjudicar entre o
que aconteceu e o que não aconteceu. Ou seja, denúncias baseadas em
auto-relatos subjetivos são processadas como se correspondessem à realidade
objetiva.
Com isso ignora-se que essas denúncias possam ser manipuladas,
sendo instrumentalizadas em favor de uma determinada agenda política ou em
favor de necessidades psicológicas específicas dos acusadores. Levar em consideração
essa possibilidade não é uma opção porque significaria “blame the victim”. O
resultado é que os acusados são tratados como criminosos, sendo processados em
um rito sumário, sem direito ao devido processo legal. Os desfechos
freqüentemente consistem de suspensão, expulsão ou treinamento em sensibilidade
étnica ou diversidades (leia-se lavagem cerebral).
Uma variante do roteiro é implementada quando algum
convidado conservador está programado para falar no campus. Nunca faltam grupos
de estudantes que se sintam ofendidos e temerosos do quê eventualmente os
malvadões conservadores venham a dizer. Essa turma exige então que as
universidades revoguem os convites ou que providenciem “safe spaces” nos quais
os estudantes melindrados possam se sentir mais confortáveis. Isso para não
falar daqueles casos nos quais a turba parte para a pancadaria em cima dos
convidados.
Essa história se repete sob a complacência das autoridades
universitárias há mais 50 anos. Mas, nos últimos anos houve um recrudescimento
dessa histeria. O público em geral não compreende o que está acontecendo. Tudo
parece uma grande loucura. Parece que, quanto menos racista, sexista e homofóbica a universidade se tranforma na
realidade, mais besteirada esse pessoal inventa para ficar se queixando da
vida.
Não é à toa que essa geração está sendo carcterizada como
mimimadinhos. E não sou apenas eu que digo isso. Nas palavras do próprio Barack
Obama, o seu líder supremo, felizmente destronado:
“I’ve heard
of some college campuses where they don’t want to have a guest speaker who is
too conservative or they don’t want to read a book if it had language that is
offensive to African Americans or somehow sends a demeaning signal towards
women. I’ve got to tell you, I don’t agree with that either— that when you become
students at colleges, you have to be coddled and protected from different
points of view” (Barack Obama, 2015, cit. in Zimmerman, 2016, p. 103).
Casos famoso envolveram personagens tão diversas quanto Milo
Yannapoulos, Christina Hoff Sommers, Charles Murray etc. O que fazem as autoridades
universitárias? Nada no sentido de enquadrar os estudantes agressores no rigor
das normas de boa conduta. Tudo no sentido de fomentar essa bagunça. Milhões e
milhões de dólares são destinados a criar “safe houses”, dispositivos de “trigger
warnings”, programas de reeducação dos microagressores, programas de terapia
para os microagredidos etc. etc. Até agora os únicos resultados têm sido um
crescimento astronômico das mensalidades e o cerceamento à liberdade de
pensamento. Justamente na universidade, onde se supunha que o debate entre
posições divergentes deveria ocorrer de forma acadêmica e civilizada.
Eu sempre ficava me perguntando assim: O que aconteceria se
algum dia, a administração de alguma universidade resolvesse bancar a parada e
dar um fim a essa histeria coletiva? Pois não é que alguém fez isso, com
resultados nem tão surpreendentes assim.
Em abril de 2016 uma turba invadiu a reitoria da Ohio State
University (assista ao vídeo) e exigiu ser recebida pelo reitor para apresentar
suas reinvindicações. Sempre aquela mesma pauta politicamente correta das
microagressões etc. Eram cerca de 100 alunos. Houve muita confusão e um
princípio de tumulto. O reitor avisou que não iria conversar com eles e que os
receberia somente mediante agendamento prévio. A maioria dos alunos resolveu ir
para casa. Mas um grupo de cerca de uma dúzia resolveu ficar para passar a
noite.
Funcionário da Ohio State Univesity explicita a política da universidade para a turba invasora
(Abril de 2016)
Um representante da reitoria veio então e anunciou para os
estudantes que eles deveriam desocupar o prédio até às cinco da manhã. Usou o
próprio veneno dos estudantes contra eles: O reitor e demais funcionários
administrativos estavam se sentido coagidos (microagredidos?) e ameaçados pelos
estudantes. Às sete horas da manhã deveria começar o novo expediente da reitoria
e o reitor queria garantir a segurança física e emocional dos funcionários.
Eles deveriam então desocupar o prédio, caso contrário seriam presos e expulsos
da universidade.
Alguém perguntou o que a polícia faria. A resposta foi que,
em duplas os policiais pegariam cada um dos estudantes e os levariam para o
camburão. Dessa forma eles poderia experimentar a sensação de serem presos
lutando em prol da sua (seja lá qual fosse) causa.
Parabéns, ainda que atrasados, a Michael Drake M.D., magnífico reitor da Ohio State
University. Tomara que essa moda pegue e seja importada para o Brasil.
Michale V. Drake, M.D.
Magnífico reitor da Ohio State University
Magnífico reitor da Ohio State University
Referência
Zimmerman,
J. (2016). Campus politics. What everyone needs to know®. New York: Oxford
University Press.
Essa agenda globalista esta se alastrando rapidamente e os estragos são muitos!
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