quarta-feira, 11 de outubro de 2017

PATER FAMILIAS

Domingão em alguma capital brasileira. A família está reunida à mesa do almoço. Mãe e filha combinam uma ida ao shopping. O pai é gentilmente desconvidado. Sua impaciência masculina estragaria a festa de compras.


A filha está em dúvida se vai ou não vai. Tem prova no dia seguinte.

O pai fala assim:

“Se você não quiser ir, sua mãe e eu haveremos de arrumar alguma coisa para fazer. Deve haver alguma exposição de putaria em algum museu da cidade”.

Finalmente, resolvem ir e o pai vai fuçar no FaceBook. Para sua surpresa descobre o quão profética fora sua premonição. De fato, há uma exposição de putaria em andamento em um centro cultural da cidade. A qual está provocando a ira das famílias.

O pai se lamenta:

“Eu gostava tanto de arte. Mas, atualmente nos museus e teatros só dá marxismo ou putaria. A situação é menos dramática na música clássica e no cinema. Sempre sobra algum concerto ou filme ao qual se possa assistir. Mas é bom não espalhar que ainda restam algumas brechinhas para a arte. Senão o pessoal do marxismo cultural vai invadir a música clássica. Daqui a pouco vamos ver violoncelistas pelados enfiando arcos nos orifícios”.

Mas nem assim o pai consegue ser original. Já tem a Suzy, que toca piano pelada.

O Caetano – sempre ele – disse: “Como é bom poder tocar um instrumento”.

O pai se consola: “Como é bom poder cumprir o meu papel social”.

O pater familias se compraz em exercer seu papel social com a severidade de um Catão. Só que, não se fazem mais pais como antigamente.

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