sábado, 30 de junho de 2018

POR QUE PERDER TEMPO COM A POLÍTICA DE IDENTIDADES SE SOMOS TODOS IGUAIS?

Hoje eu estava pesquisando para o minha disciplina no PPG em Neurociências no segundo semestre, sobre neurovolução da moralidade. Daí eu comecei a ler um artigo muito bacana de Gintis, van Scheik e Boehm (2015). Os caras propõem um modelo muito interessante para a evolução social humana. Segundo eles, a invenção e disponibilidade de armas letais, tais como lanças, teria permitido que os mais fracos unidos enfrentassem efetivamente os machos alfa, constrangendo o poder desses.

Teria surgido assim o igualitarismo primitivo que caracteriza as culturas de caçadores e coletores. Teria surgido assim a política. O enfrentamento dos metidos a bully passaria a depender então da articulação política entre os mais fracos. Surgiria o Homo ludens. E  o Homo sapiens se transformaria em Zoon politikon. Acho essa história fascinante. Entre outras coisas porque ela é reminescente do mito da hora primitiva e parricídio propostos por Freud. Fica no modo condicional, como uma hipótese a ser melhor explorada.

O Chritopher Boehm eu já conhecia. Acho que ele é o autor origina do modelo (Boehm, 2001). Fiquei curioso a respeito do Herbert Gintis. Já tinha visto alguma coisa dele. Mas nunca tinha lido. É um economista daqueles metidos a fazer uma teoria de tudo, integrando todo o conhecimento das ciências sociais e comportamentais. Fui lá no site do cara e me deparei com o disclaimer que consta na Figura 1. Como não ficar curioso a respeito de um cara desses? Como não ir atrás da obra dele?

Figura 1 - Disclaimer no site de Herbert Gintis.

A frase é intrigante. Eu entendo da seguinte maneira. Justamente porque somos iguais, porque comungamos uma origem comum e uma mesma natureza humana, não podemos ficar perdendo tempo com essa bobagem relativista e com a política de identidades, que promove o pluribus em detrimento do unum. A política de identidades é divisiva. Ela promove a diferença de castas. É uma distorção da ira justa dos mais fracos contra o pai poderoso. É uma tentativa de usa o poder do estado não para abolir, mas para criar uma nova pecking order. Representa uma tentativa de voltar no tempo para antes da Pedra Lascada, um retorno ao estado natural mítico de Hobbes:

Hereby it is manifest, that during the time men live without a common power to keep them all in awe, they are in that condition which is called war; and such a war as is of every man against every man.... In such condition there is no place for industry, because the fruit thereof is uncertain: and consequently no culture of the earth; no navigation, nor use of the commodities that may be imported by sea; no commodious building; no instruments of moving and removing such things as require much force; no knowledge of the face of the earth; no account of time; no arts; no letters; no society; and which is worst of all, continual fear, and danger of violent death; and the life of man, solitary, poor, nasty, brutish, and short (cit in Pinker, 2003, p. 13).

Referências

Boehm, C. (2001). Hierarchy in the forest. Evolution of egalitarian behavior. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Gintis, H., van Scheik, C. e Boehm, C. (2015). Zoon politikon. The evolutionary origins of human political systems. Current Anthropology, 56, 327-353.

Pinker, S. (2003). The blank slate. The modern denial of human nature. New York: Penguin.

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