Estou
de férias. De modo que ainda não retornei à FAFICH nesse início de ano, após a
invasão ocorrida no ano passado. Pelo que soube a administração da FAFICH e o
pessoal da limpeza tiveram bastante trabalho para deixar o prédio habitável
novamente. A partir das fotos que estão sendo postadas por alguns colegas, dá
para se ver que, apesar do empenho, a FAFICH ainda apresenta algumas marcas ou “lembranças”
dos invesores. Por outro lado, a "criatividade" dos jovens invasores nos incita a uma reflexão sobre o conceito de utopia.
Em uma
das pichações o pessoal escreveu assim: “Gasolina neles”. Eu me senti muito
intimidado com isso. Pensei que talvez eu possa ser o alvo dessa “microagressão”.
Ainda que eles não tenham, explicitamente, mencionado meu nome. Será que vou
precisar recorrer à Ouvidoria da UFMG, para que eles me proporcionem algum tipo
de aconselhamento psicológico ou alguma safe house na qual eu possa me sentir
mais protegido dos incendiários em potencial?
Na
outra pichação o pessoal declara que a única utopia possível é centrada no
órgão excretório que faz o “número dois”, como as crianças e professoras
costumam falar no jardim da infância. Aliás o comportamento todo e as
expressões intelectuais dessa turma de invasores e pichadores de prédios público
leva a algumas interrogações quanto à sua maturidade. Para não falar da
sanidade mental.
Acho
meio difícil de compreender o que se passa na cabeça dessa turma que fica
invadindo faculdade e pichando parede com besteira. Fico um pouco confuso, mas
tenho algumas hipóteses. E nenhuma delas é muito lisonjeira para eles. Foram
eles próprios que deram a dica, através do conteúdo das suas pichações. Ao
associarem explicitamente o seu comportamento com alguma suposta utopia, eles
estão dizendo que o mundo tal como existe não é bom que chegue pra eles. Que o
mundo precisa ser primeiramente destruído, para ser posteriormente reconstruído.
Supostamente assentado sobre bases mais racionais, igualitárias e libertárias.
Ou
talvez o mundo seja bom demais pra eles. De acordo com essa hipótese, eles se
perceberiam como excluídos, marginalizados, como imerecedores de um mundo
brutal, injusto e desigual. De qualquer forma, fica a clara a incongruência
entre o seu desejo e o estado do mundo. Daí a necessidade de utopia, de
destruição para, talvez, propiciar uma reconstrução em novas bases. De qualquer forma, a julgar pela tolerância da administração central da universidade, até que o mundo tem sido bem tolerante com eles. Tolerante talvez demais.
Será
que os caras não percebem que eles são parte de uma elite? Isso mesmo, de uma
elite. Quer reconheçam, ou não, eles são da elite. Foram selecionados no ENEM,
têm a oportunidade de estudar em uma das melhores universidades, com os
melhores professores. Os mais pobres dentre eles têm toda uma assistência
social pela FUMP.
Essas
coisas todas custam muito caro para os pagadores de impostos. Ou seja, para a
massa de cidadãos que trabalha, não
usufrui dessas benesses e nos sustenta. Eu esperaria que, no mínimo, eles se
sentissem gratos e obrigados a preservar e enriquecer esse patrimônio. E não se
dessem ao luxo de destruí-lo nos dois sentidos. No sentido físico, como se vê
na parede pichada. E no sentido intelectual, como se atesta pela sua pobreza de
espírito.
Fico
pensando que na infância, ou eles ganharam carinho de mais, ou de menos. Os que
foram mimados, se colocam no centro de tudo e acreditam que o mundo deve se
curvar à sua vontade. Os que ganharam carinho de menos sentem raiva e revolta e
se julgam no direito de destruir o mundo, também para refazê-lo à sua vontade.
As
duas experiências podem ainda interagir. Muitos ganharam carinho de menos porque
seus pais estavam imersos nas próprias agendas narcisistas. Talvez os pais
estivem tão envolvidos nos seus dramas profissionais, conjugais e existenciais
que não pudessem propiciar o cuidado necessário aos seus filhos. Um tipo de carinho de menos pode então ser
compensando por outro tipo de carinho de mais, sob a forma de indulgência
excessiva manifestada pelo acesso desenfreado a bens de consumo ou ausência de
disciplina.
Seja
qual for a hipótese que corresponda à realidade, o resultado é sempre o mesmo.
O mundo não corresponde à expectativa dos invasores de prédios e pichadores de
parede. Então eles ficam com raivinha, fazem pirracinha e o mundo precisa se
adequear à sua vontadezinha. Acho que é isso que eles entendem por utopia.
Independentemente de qual seja a causa, falta ou excesso de carinho, o
resultado é o mesmo: o narcisismo. Eles ficam se sentindo “os bacanas”. Os
caras que querem melhorar o mundo. O resto todo – ou seja nós que só queremos
tocar a vida – somos escória moral.
Quem
procede como os invasores e pichadores se comportaram. não consegue assumir a
perspectiva dos outros. Em psicologia isso tem nome: déficit em mentalização ou
teoria da mente. O qual é obsevado em casos de autismo ou psicopatia.
Ou o
cara se coloca numa posição de autoridade, à qual todos devem se curvar, ou
erige o seu tormento existencial, real ou imaginário, em categoria ontológica
primordial. Sem a menor consideração pelos interesses e direitos alheios. Sem
que se perceba a menor necessidade de sentir e expressar gratidão pela
oportunidade que estão tendo na vida e desperdiçando.
Sim,
porque os invasores e pixadores estão jogando no lixo a chance que teriam para
aprender alguma coisa. Esse povo que vai pra faculdade fazer crédito no centro acadêmico
não aprende nada de útil. Nada que contribua para o bem-estar próprio ou
alheio. Não aprende a ler, interpretar e escrever um texto, não aprende a
debater de forma intelectualmente honesta, não aprende a aceitar a diversidade
de perspectivas políticas e religiosas, não aprende uma profissão.
A
única coisa que eles aprendem é a implementar a agenda destrutiva do marxismo
cultural. Depois de se formarem não lhes restará outra alternativa a não ser
continuar fazendo a única coisa que sabem fazer. As únicas entidades que se
disporão a lhes pagar um salário para isso serão os partidos políticos fora da
casinha e as pseudo-ONGs picaretas sustentadas a peso de ouro pelo estado.
Ganharão salário mínimo para "trabalhar" meio expediente. No
contra-turno se ocuparão de fumar maconha no milharal e de-formar a próxima
geração de idiotas úteis.
Mas
tudo o que eu falei até agora, só se aplica à perspectiva pessoal dos
invasores. Se formos nos perguntar pela perspectiva alheia, dos pagadores de
impostos e professores e estudantes que querem trabalhar e estudar, a coisa
ficará mais feia ainda. Além da auto-referenciação moral que caracteriza as
manifestações psicopatológicas, revelar-se-á a face totalitária da utopia. Ou
seja, quem se contrapuser ao seu caminho será patrolado pelos mecanismos mais
primitivos e de groupthinking sobre os quais as ditaduras são construídas e
mantidas.
E tudo
isso aconteceu e acontece sob o beneplácito de muitos colegas professores, da
administração universitária e do Ministério Público. Subjacente a essas malcriações
se esconde o desejo de solapar o estado democrático de direito e substituí-lo
por uma utopia perversa e totalitária. A desgraceira toda do Século XX não
ensinou a essa gente o quanto as utopias podem ser nefastas? Mas triste mesmo
é ver que não há novidade nenhuma nisso tudo. A História fica perpetuamente se
repetindo. Cada vez de forma mais farsesca.
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