quarta-feira, 19 de julho de 2017

HEGEMONIA ESQUERDISTA: SAINDO DA CAVERNA?

A esquerda tomou conta de uma tal forma da nossa cultura que seus pressupostos nos parecem a coisa mais natural do mundo. Quando percebemos isso, dá arrepios mas ao mesmo tempo parece uma verdadeira epifania. Com o perdão do clichê, a sensação é de sair da Caverna de Platão.


As comparações culturais procuram identificar e analisar tanto as semelhanças quanto as diferenças. A antropologia evolucionista se interessa pelos dois, os universais e os particulares. Ambos são interpretados à luz das teorias da evolução por seleção natural e por seleção sexual. A pergunta é  como as diversas culturas se estruturam para promover os interesses darwinianos do seu pool de genes. Os universais culturais são interpretados como constrições biológicas e as especificidades como soluções singulares, adaptativas em diferentes ecologias.


A antropologia cultural foca mais nas diferenças entre as culturas. Não tenho nada contra as diferenças. A diversidade é o fenômeno biológico básico conforme Dobzhansky e ajuda a preservar o pool de genes em face das imponderabilidades ecológicas. A bronca que eu tenho com a antropologia cultural é que, da identificação das especificidades ao relativismo é um pulo simples e rápido demais.

O relativismo cultural, por sua vez, nos leva à aceitação de verdadeiras monstruosidades – a partir da perspectiva ocidental – tais como o infanticídio de bebês malformados, a opressão das mulheres e gays, o estupro, a mutilação genital feminina, a pedofilia, o totalitarismo e o terrorismo etc. Além de ser auto-contraditório, o relativismo corrói por dentro os fundamentos da nossa cultura, judaico-cristã e ocidental. Nossa Cultura Ocidental é muito defeituosa, mas comparada com o quê? - como diz o Thomas Sowell. Com um ideal angelical ou com a realidade da vida?

Não foi sem surpresa, portanto, que assisti recentemente à conferência do antropólogo social Flávio Gordon intitulada "Técnicas de hegemonia: o ativismo da esquerda cultural". A conferência se baseia em uma pesquisa acadêmica minuciosa e sofisticada na qual o autor utiliza uma abordagem antropológica para analisar a hegemonia cultural esquerdista. As táticas hegemônicas culturais dos intelectuais esquerdistas remontam, pelo menos, ao Iluminismo Francês do Século XVIII. Já naquela época os intelectuais agiam como que de forma concertada para assassinar as reputações dos adversários da sua agenda anti-valores ocidentais.

O autor reconta a história, para a qual Olavo de Carvalho já havia chamado atenção, de como o antigo PCB monopolizou a opinião jornalística a partir do final dos Anos 1950 e de como a partir dos Anos 1960 a agenda anti-família e anti-ocidental proposta pela Escola de Frankfurt e pelos pós-modernos franceses tomou de assalto a TV, o teatro, a música popular, a universidade, toda a cultura brasileira enfim. Os novos guerrilheiros culturais eram interpretados como "esquerda festiva" pelo Regime Militar e deixados quase à vontade, uma vez que os milicos estavam mais preocupados com os terroristas.

Ele propõe uma tipologia das estratégias manipulativas utilizadas, p. ex., pela mídia. Algumas das categorias manipulativas identificadas por Flávio Gordon são:

1. Inversão:  “Israel suspende trégua de 24 horas após Hamas disparar mísseis”;

2. Nivelamento:  “Mais um negro é morto pela polícia em NY”;

3. Marcação: “Dois morrem a facadas na Cidade Velha de Jerusalem”; “Polícia Israelense proíbe palestinos de acessar Cidade Velha de Jerusalem”;

4. Intransitividade maliciosa: “Senador da oposição, considerado ultraconservador, é o primeiro político a se candidatar...”.

Além das manchetes jornalístgicas, a conferência é ilustrada com vídeos extraídos de programas da Globo, os quais são verdadeiramente chocantes. O público é inundado por mensagens ideologicamente desabridas, de cunho mais doutrinário do que artístico ou informativo, promovendo a agenda do aborto, transgenderismo, promiscuidade, sexualização precoce, glamourização da doença mental, conflito de classes etc. Todos esses hot topics são tratados como se houvesse um consenso óbvio a seu respeito e como se agenda descolada fosse um dado implícito da realidade. Como se o aborto, p. ex., fosse um direito natural.


Assistindo a esses vídeos captei da forma mais vívida possível a essência da cultura. Cultura é tudo aquilo que nos impregna de forma implícita e confere um tom de naturalidade à nossa experiência. A identificação e crítica dos pressupostos subjacentes à hegemonia cultural esquerdista tem um caráter epifânico. A minha experiência revelada diz respeito ao tempo que todos nós já perdemos e continuamos perdendo com essas bobagens que não levam a nada que preste. E o quanto essa bobajada maligna impregna o nosso modo de pensar. A ponto de ser  cada vez mais difícil obter um distanciamento crítico.

Eu parei de ver televisão há muito. Não tenho a menor idéia do que está rolando. Acho que essa foi a razão maior do meu choque. Mas fico imaginando que a maioria da população fica se deixando inebriar por esses valores anti-família e anti-ocidentais. Como se a cultura do morro carioca fosse uma metonímia do Brasil.

Flávio Gordon acredita também que está ocorrendo um divórcio progressivo entre a agenda politicamente descolada da esquerda caviar e os valores conservadores subscritos pela maioria da população. Essa idéia de coming apart já havia sido proposto pelo Charles Murray. Murray fez uma extensa pesquisa mostrando como pessoas de níveis sócio-educacionais distintos estão cada vez mais se afastando e se agregando em subculturas. Há evidências indicando que um refluxo dos valores anti-ocidentais entre as pessoas mais educadas e desagregação progressiva da família e do tecido social nas classes menos educadas. P. ex., a estabilidade matrimonial aumentou nas últimas décadas entre os mais ricos e educados e diminuiu entre os mais pobres e menos educados. O pior é que, como essas diferentes castas estão geográfica e socialmente separadas, elas pouco convivem e poucas oportunidades têm de trocar experiências. Cria-se um verdadeiro apartheid.

Os descolados estariam forçando demais a barra e um dia a bomba poderia estourar na sua mão. Não sei não. Tenho receio de que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. É possível suspeitar que a insistência com a qual as fake news esquerdistas são repetidas acabe transformando-as em verdades. A seguir a toada, a longo prazo seremos sufocados pelo esquerdismo cultural. Perdemos progressivamente a capacidade de crítica e aceitamos como “naturais” idéias espatafúrdias. Um mundo caracterizado por algum tipo de ordem moral e religiosa está sendo substituído por um mundo profano, despido de conteúdo para os seres humanos. Será que um dia as pessoas se darão conta do engodo? É por estes motivos que apreciei tanto a conferência do Flávio Gordon. A situação está osca. Mas, por mais osca que esteja, sair da Caverna de Platão – com o perdão, mais uma vez, do clichê – é o primeiro passo para a liberdade.

O que me consola é que há toda uma geração de jovens intelectuais muito inteligentes e preparados, que saíram do armário e estão nos ajudando a desconstruir as relações de poder subjacentes ao discurso esquerdista. As redes sociais na internet criaram um nicho de atuação para esses jovens blogueiros e youtubers. É uma pena que eles estejam alijados da Universidade. A Academia se ressente da sua ausência. As universidades mundiais e brasileiras sucumbiram à mesmice esquerdista. Transformaram-se em antros de auto-complacência para os ungidos de esquerda. Para aqueles inteligentinhos do Pondé ou ungidos do Sowell, que foram iluminados pela verdade e são detentores da solução para os problemas da Humanidade.

Parece mesmo que existe um teto de vidro, que impede a inserção e ascensão acadêmica de intelectuais conservadores. Enquanto esse bloqueio  não for furado, a coisa não vai mudar. Ainda vamos ter muito trabalho nos blogs e redes sociais.


Referência

Gordon, F. (2017). Técnicas de hegemonia: o ativismoda esquerda cultural. Campina Grande, PB: Instituto Borborema.

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