quarta-feira, 26 de julho de 2017

PROTESTOS UNIVERSITÁRIOS: O QUE ACONTECE QUANDO A REITORIA RESOLVE CUMPRIR A LEI?

No final do ano passado as escolas e universidades brasileiras foram tomadas de assalto por bandos de estudantes (não seriam malfeitores?), os quais estariam supostamente protestando contra as medidas de controle orçamentário então propostas pelo governo do “golpista” Michel Temer.

Colegas estudantes, professores, e pacientes atendidos em serviços clínicos universitários foram coagidos por essa turba, muitos verbal e até mesmo fisicamente agredidos. Tudo isso sob o olhar complacente das autoridades universitárias e do próprio Ministério Público. Os quais optaram por não “criminalizar” as invasões. Ou seja, não tratar os crimes de esbulho de propriedade pública e coação como tais. Quando quis dar minha aula e fui impedido de entrar no prédio, uma moça me mostrou um acordo que os invasores teriam feito com o Ministério Público Federal.
 
Agenda dos invasoes da FAFICH-UFMG em outubro/novembro de 2016

É difícil compreender as razões pelas quais essas autoridades abriram mão do zelo pela propriedade pública e pelo funcionamento das instituições públicas que lhes foi legalmente confiado.  Em alguns casos é possível suspeitar que as autoridades não fossem apenas coniventes, mas que elas próprias estivessem fomentando e liderando essas invasões  com o intuito de promover uma determinada agenda política. De forma autoritária e anti-democrática, desconsiderando os direitos e as obrigações de professores/funcionários públicos que não compartilhavam dessa agenda.

Uma coisa muito parecida está acontecendo nos EUA. Os motivos alegados para as manifestações intolerantes e agressivas de estudantes divergem nominalmente dos nossos em alguns pontos. Lá nos EUA eles não estão preocupados com o “góipi do Temer”. Mas ambas turbas, aqui e lá, compartilham causas relacionadas com a diversidade étnica e de gênero. Não deixa de ser surpreendente que eles advoguem por diversidade apenas nesse leque estrito de dimensões, esquecendo que a diversidade política e religiosa também é constitutiva da personalidade. E isso não acontece apenas no Brasil e EUA. A semelhança de agenda entre diversos países é tão grande que dá para desconfiar que muitas dessas reinvindicações tenham sido importadas dos gringos imperialistas. A nossa esquerda não tem imaginação nem para criar sua própria agenda.

A conivência, quando não co-responsabilidade, das autoridades universitárias nos EUA é também muito clara. O roteiro é mais ou menos estereotipado. Alguém inadvertidamente faz um comentário que é tomado como ofensa por outra pessoa. P. ex., não se pode dizer que “Os EUA são um cadinho de culturas” porque isso supostamente impõe uma normatividade cultural anglo-saxã, desvalorizando as identidades culturais específicas. Também não se pode falar que “Os EUA são uma terra de oportunidades” ou que “Alguém apresenta uma determinada opção sexual” porque, respectivamente, os escravos africanos trazidos à força não tiveram qualquer oportunidade e porque a pessoa não escolhe mas, sim, nasce com uma determinada orientação sexual.

Essas observações, na maioria das vezes inadvertidas, constituem “triggers” para microagressões. Ou seja, são tomadas como ofensas e denunciadas às autoridades universitárias. As normas de diversidade estabelecidas pela administração das próprias universidades obrigam os seus responsáveis administrativos a investigarem a fundo cada uma dessas denúncias, sem que haja necessidade de qualquer critério objetivo para adjudicar entre o que aconteceu e o que não aconteceu. Ou seja, denúncias baseadas em auto-relatos subjetivos são processadas como se correspondessem à realidade objetiva.

Com isso ignora-se que essas denúncias possam ser manipuladas, sendo instrumentalizadas em favor de uma determinada agenda política ou em favor de necessidades psicológicas específicas dos acusadores. Levar em consideração essa possibilidade não é uma opção porque significaria “blame the victim”. O resultado é que os acusados são tratados como criminosos, sendo processados em um rito sumário, sem direito ao devido processo legal. Os desfechos freqüentemente consistem de suspensão, expulsão ou treinamento em sensibilidade étnica ou diversidades (leia-se lavagem cerebral).

Uma variante do roteiro é implementada quando algum convidado conservador está programado para falar no campus. Nunca faltam grupos de estudantes que se sintam ofendidos e temerosos do quê eventualmente os malvadões conservadores venham a dizer. Essa turma exige então que as universidades revoguem os convites ou que providenciem “safe spaces” nos quais os estudantes melindrados possam se sentir mais confortáveis. Isso para não falar daqueles casos nos quais a turba parte para a pancadaria em cima dos convidados.

Essa história se repete sob a complacência das autoridades universitárias há mais 50 anos. Mas, nos últimos anos houve um recrudescimento dessa histeria. O público em geral não compreende o que está acontecendo. Tudo parece uma grande loucura. Parece que, quanto menos racista, sexista e  homofóbica a universidade se tranforma na realidade, mais besteirada esse pessoal inventa para ficar se queixando da vida.

Não é à toa que essa geração está sendo carcterizada como mimimadinhos. E não sou apenas eu que digo isso. Nas palavras do próprio Barack Obama, o seu líder supremo, felizmente destronado:

“I’ve heard of some college campuses where they don’t want to have a guest speaker who is too conservative or they don’t want to read a book if it had language that is offensive to African Americans or somehow sends a demeaning signal towards women. I’ve got to tell you, I don’t agree with that either— that when you become students at colleges, you have to be coddled and protected from different points of view” (Barack Obama, 2015, cit. in Zimmerman, 2016, p. 103).

Casos famoso envolveram personagens tão diversas quanto Milo Yannapoulos, Christina Hoff Sommers, Charles Murray etc. O que fazem as autoridades universitárias? Nada no sentido de enquadrar os estudantes agressores no rigor das normas de boa conduta. Tudo no sentido de fomentar essa bagunça. Milhões e milhões de dólares são destinados a criar “safe houses”, dispositivos de “trigger warnings”, programas de reeducação dos microagressores, programas de terapia para os microagredidos etc. etc. Até agora os únicos resultados têm sido um crescimento astronômico das mensalidades e o cerceamento à liberdade de pensamento. Justamente na universidade, onde se supunha que o debate entre posições divergentes deveria ocorrer de forma acadêmica e civilizada.

Eu sempre ficava me perguntando assim: O que aconteceria se algum dia, a administração de alguma universidade resolvesse bancar a parada e dar um fim a essa histeria coletiva? Pois não é que alguém fez isso, com resultados nem tão surpreendentes assim.

Em abril de 2016 uma turba invadiu a reitoria da Ohio State University (assista ao vídeo) e exigiu ser recebida pelo reitor para apresentar suas reinvindicações. Sempre aquela mesma pauta politicamente correta das microagressões etc. Eram cerca de 100 alunos. Houve  muita confusão e um princípio de tumulto. O reitor avisou que não iria conversar com eles e que os receberia somente mediante agendamento prévio. A maioria dos alunos resolveu ir para casa. Mas um grupo de cerca de uma dúzia resolveu ficar para passar a noite.

  Funcionário da Ohio State Univesity explicita a política da universidade para a turba invasora
(Abril de 2016)
Um representante da reitoria veio então e anunciou para os estudantes que eles deveriam desocupar o prédio até às cinco da manhã. Usou o próprio veneno dos estudantes contra eles: O reitor e demais funcionários administrativos estavam se sentido coagidos (microagredidos?) e ameaçados pelos estudantes. Às sete horas da manhã deveria começar o novo expediente da reitoria e o reitor queria garantir a segurança física e emocional dos funcionários. Eles deveriam então desocupar o prédio, caso contrário seriam presos e expulsos da universidade.

Alguém perguntou o que a polícia faria. A resposta foi que, em duplas os policiais pegariam cada um dos estudantes e os levariam para o camburão. Dessa forma eles poderia experimentar a sensação de serem presos lutando em prol da sua (seja lá qual fosse) causa.

Parabéns, ainda que atrasados, a Michael Drake M.D., magnífico reitor da Ohio State University. Tomara que essa moda pegue e seja importada para o Brasil.

Michale V. Drake, M.D.
Magnífico reitor da Ohio State University

Referência

Zimmerman, J. (2016). Campus politics. What everyone needs to know®. New York: Oxford University Press.




Um comentário:

  1. Essa agenda globalista esta se alastrando rapidamente e os estragos são muitos!

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