sábado, 30 de setembro de 2017

O TRANSGENDERISMO É UM ESSENCIALISMO

Obviamente existem diferenças entre os cérebros dos homens e das mulheres. O dimorfismo sexual não se restringe aos genitais. O cérebro também é um órgão reprodutor. As diferenças podem ser caracterizadas do ponto de vista anatômico, fisiológico e químico. Elas são reais. E, a propósito, são negadas pelas feministas de gênero. P. ex.  durante o ciclo menstrual, gestação, parto, lactação etc. o hipotálamo da mulher passa por diversas alterações anátomo-funcionais.

Também não é  um absurdo, em si, que um homem possa ter um cérebro com características mais femininas. Isso é por demais conhecido. A diferenciação sexual do cérebro pode depender mais de níveis hormonais na vida fetal do que de influências genética. P. ex., meninas com hiperplasia adrenal congênita ou cujas mães receberam altas doses de corticóides na gestação podem apresentar características comportamentais masculinizadas (tomboyismo). Individuos cromossomicamente masculinos com insenbilidade congênita aos andrógenos desenvolvem características fenotípicas femininas, inclusive cerebrais e comportamentais. Tudo isso é antigo e bem conhecido. A novidade é usar essa hipótese para promover uma agenda política; o que só leva a absurdos.

Alguns dos absurdos do transgenderismo são: 1) Acreditar que existe um cérebro tipicamente masculino ou tipicamente feminino; 2) Acreditar que isso, eventualmente, justificaria quaisquer tratamentos cirúrgicos cosméticos com o intuito de aproximar o corpo da pessoa ao do sexo que ela almeja; 3) Acreditar que uma pessoa pode mudar de "gênero", seja lá o que a palavra "gênero" signifique; 4) Acreditar que o pagador de impostos deve arcar com os custos desses tratamentos, os quais seriam priorizados em detrimento de outras necessidades de saúde da população; 5) Acreditar que essas decisões médicas podem ser tomadas simplesmente com base em critérios subjetivos, de como o indivíduo "se sente", na ausência de quaisquer critérios biológicos que possam comprovar a hipótese de que a pessoa tem “o cérebro de um sexo preso no corpo de outro sexo” e sem levar em consideração o perfil mais amplo de psicopatologias associadas e as conseqüências desses procedimentos radicais; 6) Acreditar que se possa violar o corpo de crianças em nome de uma ideologia.

São tantas crenças esdrúxulas, que fica difícil pegar no pé de cada  uma. Vou fazer um comentário apenas sobre a questão do essencialismo sexual. O feminismo de gênero critica o essencialismo sexual cerebral. O transgenderismo se apóia nesse conceito, que mais lembra aquelas piadas sobre as eventuais diferenças entre os cérebros de homens e mulheres.


A má notícia é que não existem cérebros tipicamente femininos e tipicamente masculinos. Os cérebros de  homens e mulheres diferem entre si. Mas, em muitos aspectos relevantes para o comportamento, a personalidade e a cognição, as diferenças intra-sexuais são muito maiores do que as diferenças inter-sexuais. E essa variabilidade é maior no sexo masculino do que no sexo feminino. Então é possível dizer que as diferenças de temperamento entre os homens podem até ser maiores do que entre a média dos homens e média das mulheres.

Apesar de haver características mais freqüentes entre homens do que entre mulheres, e vice versa, é muito perigoso ficar raciocinando em termos de estereótipos. Como se houvesse tipos ideais: o "cérebro masculino" e o "cérebro feminino". Os estereótipos não são inúteis como uma primeira aproximação à realidade. Mas a realidade é muito mais complexa e os preconceitos freqüentemente precisam ser reformulados quando se conhece uma pessoa de carne e osso. Não se pode ficar tomando decisões de saúde com implicações potencialmente gravíssimas do ponto de vista social e pessoal simplesmente com base em estereótipos, ou seja, preconceitos. Ou com base em uma agenda política. Afinal, nós não queremos justamente combater o preconceito?

A triste sina dos inteligentinhos livres de preconceito, cuja unica ocupação na vida consiste em combater o preconceito, é que eles acabam vitimas dos seus próprios preconceitos. O preconceito das feministas de gênero é que não há essências. O preconceito dos transgenderistas é que há essências. Para não esquecer que, pairando altaneiro nas alturas do politicamente correto, sobressai-se o preconceito de não ter preconceitos. 

Nota bilbiográfica

 
Um dos melhores estudo que eu li sobre o assunto está disponível gratuitamente na inerent: Mayer. L. S. & McHugh, P. R. (2016). Sexuality and gender. Findings from the biological, psychological, and socialsciences. The New Atlantis. A Journal of Technology and Society, 50, 1-144.


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