quinta-feira, 4 de outubro de 2018

FIM DA NOVA REPÚBLICA

Todos momentos são históricos para quem os vivencia na sua plenitude, reflete e se posiciona. Ontem ouvi um belíssimo podcast do Flávio Morgenstern e Filipe G. Martins.  Eles propuseram que a República Nova está acabando. Esse processo pode levar uns dez anos, mas já começou e é inexorável.


A  Nova República não vai deixar saudades. Ao todo serão três décadas de estagnação econômica. Uma década após a outra. E, além da estagnação econômica, a desagregação social e moral. Para azar meu, foram as três décadas em que eu me estabeleci profissionalmente, constituí família e criei meus filhos. 

Por vezes, tenho a sensação de que fui roubado. De que eu merecia viver em um país melhor, que fosse menos hostil à inteligência e ao empreendendorismo e mais amável com seus cidadãos. Mas eu não deixei me abater. Toco a minha vida, procuro contribuir para a pesquisa, educação, e saúde, e tenho, por enquanto, o FaceBook para me expressar.

Eu me dei conta de que havia uma certa inevitabilidade no processo histórico da Nova República quando o Lula foi eleito. Obviamente, fiquei muito frustrado e com uma raiva danada. A imagem que melhor retrata meus sentimentos naquela ocasião é a dos porcos na horta. 

Eu me consolei pensando assim: "Acho que isso era inevitável. O  Brasil tentou todas as alternativas disponíveis depois do fim do Regime Militar. Primeiro foram os coronéis do MDB, transvestidos de democratas. Depois foram os ladrõezinhos da esquerda moderada e perfumada representada pelo PSDB. Estava na hora de o Brasil experimentar o PT". 

Na época eu não atinava que a receita petista seria tão amarga de engolir. Eles chegaram vorazes, que nem porcos na horta. Inicialmente parecia que sua voracidade era apenas para aparelhar o estado, destruir as instituições e implantar uma ditadura de tipo soviético.

Achei que a coisa não iria durar muito tempo. Que as forças produtivas do País iriam reagir. Mas não contava com a astúcia do Lula e com a poltronice e desonestidade do PSDB. Ao mesmo tempo em que o PSDB nunca teve coragem e integridade para se opor de fato ao PT, o Lula descobriu que poderia corromper o sistema político todo e a si mesmo numa escala anteriormente jamais vista. E tudo isso, hipocritamente, sem abrir mão do seu discurso moralizante e justiceiro social.

Parecia mesmo uma inevitabilidade termos que agüentar todas as alternativas políticas à esquerda do espectro. Uma das seqüelas é que o capitalismo e o conservadorismo viraram tabu no Brasil. Ser direito virou sinônimo de ser fascista. Em certa ocasião, o Lula chegou a comemorar que só havia candidatos esquerdistas em uma eleição para presidente. E o pior é que era verdade. Como se fosse uma vantagem. A hegemonia esquerdista tão apregoada transparecia a idéia de que se estava querendo construir um país sem elites no Brasil. Como se isso fosse possível.

Quinze anos de PT no poder levaram a um esgarçamento do tecido social, estagnação econômica, aparelhamento e desorganização do estado, desmoralização das instituições, combate e perseguição implacáveis à família e aos valores morais judaico-cristãos, corrupção inaudita em escala mundial, tentativas sucessivas de golpe branco de estado (de censura e cerceamento da liberdade de expressão, aparelhamento e perseguição ao Poder Judiciário, implantação de sovietes etc.), promoção da pedofilia, doutrinação ideológica nas escolas, piora da qualidade do ensino e da assistência de saúde e, sobretudo, aumento avassalador e criação de uma cultura da criminalidade.

Sucessivas levas de programas esquerdistas de governos aliadas a uma Constituição - dita cidadã, mas que só atravanca o progresso - destruiram o País. Os caras que prometiam transformar os filhos de pedreiros em médicos, transformaram os engenheiros em motoristas de Uber. 

O fim da Nova República começou em 2013. A princípio, as manifestações dos Black Blocs não passavam de mais uma tentativa da esquerda de criar tumulto e, eventualmente, promover uma revolução. Só que o tiro saiu pela culatra. A população estava com a paciência esgotada e aderiu ao movimento. A princípio a população decente não tinha agenda. A agenda foi surgindo aos poucos, cristalizando-se na luta pelo impeachment da Dilma.

O impeachment da Dilma foi um alívio e uma frustração. Alívio por não precisarmos mais ouvir diuturnamente as arengas roufenhas do Lula e desarranjadas da Dilma. Foi uma frustração porque passaram o poder para o Temer, ressuscitando o mais velho coronelismo. Aquele mesmo que nos levou à hiperinflação e hiperestagnação e ao primeiro escândalo de corrupção e impeachment. 

Nesse processo a Constituição foi rasgada duas vezes. A primeira vez quando os direitos políticos da Dilma foram mantidos. A segunda vez quando a eleição da chapa Dilma-Temer não foi anulada por excesso de provas. Vejam bem. Eu não gosto da Constituição de 1988. Mas não fui eu quem a rasgou. Hoje, ela não passa de um papel rasgado. Vamos ter quer recomeçar.

Esses dois anos e pouco com o Temer têm sido um inferno. Obviamente, apesar da sua inteligência política - ou por isso mesmo - o histórico do Temer não o credenciava para a Presidência. Estamos vivendo numa crise sem precedentes. Eu  nunca vi nada parecido. Basta mencionar os engenheiros que poderiam estar contribuindo para a produtividade industrial e estão dirigindo Uber. Acho que o engenheiro dirigindo Uber é a imagem que fica dessa nossa época. 

A crise é política e não econômica. Como é que alguém investir sem saber a próxima que os doidos da esquerda vão inventar? As dificuldades econômicas são reflexos do desarranjo e falta de perspectiva políticos. Dá dó ver um país com tantos recursos humanos e econômicos desperdiçá-los sistematicamente, ano após ano, por quase três décadas já. Enquanto isso, os chineses estão tocando a vida deles. Nossos políticos deveriam combinar  com os chineses: "Ei chineses, parem de se desenvolver, parem de produzir! O Brasil precisa de um tempo para decidir o que quer da vida".

Será que vamos sair dessa crise ou vamos apenas cair em outra? Sinceramente eu não sei. Mas tenho algumas razões para ser otimista. Acho que a coisa não vai ser nada fácil. Nunca é. Mas agora é tarde demais para chorar sobre o leite derramado.

Os especialistas dizem que na política não tem vácuo. Um lugar vazio é sempre ocupado por alguém. É como se a política consistisse de uma série de slots, de um lado e do outro do espectro, que precisam ser ocupados. Se tudo quanto é característica biológica, psicológica e demográfica se distribui de forma gaussiana na população, por que deveria ser diferente na política? Por que a distribuição do espectro político deveria ser enviesada para a esquerda e amputada à direita?

Tinha um lugar de oposição ao PT e ao seu projeto hegemônico de poder. Ninguém quis ocupar esse slot, que ficou vazio por décadas. Durante anos a fio uma parcela majoritária da população ficou sem representação política. Enquanto isso a criminalidade com e sem colarinho grassou e a moralidade se esgarçou progressivamente. 

Aí apareceu o Bolsonaro. Foi subestimado por todos os inteligentinhos. Inclusive por mim. Mea culpa. Como disse o Percival Puggina, o problema é que o pessoal não prestou atenção no que ele falava. Acharam que era só destempero, preconceito, autoritarismo etc. Não se deram conta de que o Bolsonaro estava falando justamente aquilo que a população queria ouvir. Que estava dando voz para os silenciados. Foi o único que teve coragem de se posicionar contra a corja. Esse mérito ninguém lhe tira. Bolsonaro pagou caro por isso. Não tão caro quanto o Celso Daniel, Toninho do PT, Teori Zavascki, Eduardo Campos, Marcos Valério etc. Afinal, "só" levou uma facada e sobreviveu. Ainda tem muito bandido solto e muito bandido comandando o crime da cadeia. 

Definitivamente, agora é tarde. O irônico da história é que, após termos experimentado (quase) todas as alternativas à esquerda, voltaremos a ser governados por um capitão e por um general. Eu acho que será muito bom também no sentido de nos propiciar uma oportunidade para revisar o Regime Militar de uma forma mais equilibrada. Menos jacobina.

Diga-se, à propósito, que o comportamento dos militares tem sido exemplar nassas quase três décadas de Nova República. Eles voltaram aos quartéis e prometeram ficar quietos. E ficaram no seu canto, cumprindo sua missão constitucional e sem se meter inconstitucionalmente na política. Foram impecavelmente isentões. Agora voltarão pelo poder através das urnas. Os milicos ficaram 30 anos na beira do rio esperando e agora estão vendo a Nova República se afogar. Daqui a pouco o cadáver vai passar boiando. 

Como é que nós fomos parar nessa de decidir entre o Bolsonario e o Presidiário-mor da República? Fácil, fácil: a culpa é dos isentões. Mas quem são os isentões? Veja o video do Percival Puggina para compreender isso. Os isentões são aqueles caras que dizem assim: "Eu não sou petista, mas #EleNão". Por que #EleNão? O que Ele fez ou disse que o PT e suas linhas auxiliares esquerdistas não tenham dito e feito muito pior?

Recordar é viver. O Lula disse que as mulheres do PT tinham o grelo duro. Que uma importante auxiliar sua iria ficar feliz quando a Polícia Federal aparecesse no seu apartamento porque iria pensar que era um estupro. Entre, outras barbaridades o Lula disse que Pelotas é um pólo exportador de viados. Mas a cereja do bolo, acabamos de ficar sabendo agora, é dizer que os brasileiros não passam de idiotas. Pra não falar do Ciro, que representa o pior do coronelismo e defeca pela boca. Falou que sua ex-esposa tinha a nobre missão de dormir com ele, que os sulistas seriam fascistas, que um ex-prefeito de São Paulo seria um viadinho com areia no cú etc. Também agrediu eleitores e jornalistas verbalmente e a socos etc. Coerência nunca  foi o forte da esquerda. Os seus interesses estratégicos se sobrepõem a tudo.

Mas a questão não é só que esse pessoal diz. É o que eles fizeram e continuam tentando fazer. Eles não desistem. E não escondem o que querem fazer. Vejam as declarações do José Direceu e do Haddad, querendo soltar o Lula, dar-lhe um ministério, acabar com a Lava-Jato, acabar definitivamente com a Justiça, voltar à república sindical etc. Eles querem o transformar o País em uma ditadura esquerdista. Já tentaram isso de diversas maneiras e nunca desistem. São incansáveis abnegados da sua causa. 

O que o Bolsonaro fez de parecido? Fazer não fez nada. A não ser falar um monte de besteiras. Não consigo acreditar que ele queira 9ou que seja possível) ele implantar uma ditadura de direita no Brasil.  O quel ele vai fazer é acabar com a boquinha dos sindicatos, dos artistas, daqueles que promovem a ideologia de gênero a doutrinação ideológica nas escolas. Não esquecendo do ativismo mal disfarçado em pseudo-pesquisas financiadas pelo estado, bem como o cerceamento à liberdade de pesquisa e opinião nas universidades. Mas, principalmente, ele diz que vai se opor à cultura da criminalidade que tomou conta do nosso País, de alto a baixo.

Idiotas úteis são os isentões. Que se fizeram de espertos. Por que os isentões não se uniram antes para formar um bloco ˜democrático" que se opusesse e oferece uma opção entre o "fascismo" de direita e de esquerda. Por que as instiutições têm sido tão tolerantes com o Lula e com o PT. Por que o PT ainda não teve o seu registro cassado? Resposta: por excesso de provas, por covardia, mas principalmente, pelos interesses pessoais mais escusos dos isentões. 

Que interesses escusos sustentaram, p. ex., a indicação do Alckmin? Todo mundo sabe que o Alckmin é insosso. Que ele não tem discurso, não tem posicionamento quanto às questões que interessam à população. E já tinha levado uma surra do Lula. Por que deveria emplacar dessa vez? Subestimaram a inteligência dos brasileiros. Fizeram ouvidos moucos às necessidades e aos valores do povo. Quando o FHC acordou, já era tarde. Agora não tem mais "centrão" possível. Os produtores rurais e evangélicos - essas duas categorias sociais mais desprezadas que, entretanto, constituem o sustentáculo do País -  aderiram maciçamente ao Bolsonaro. Mais uma vez o FHC e o PSDB nos deixaram na mão. Nos deixaram sem opção que não fosse o Bolsonaro ou o Presidiário-mor.

O governo do Bolsonaro vai prestar? Sinceramente, não sei. Se não prestar, vou ser o primeiro a criticar. Não sou bolsominion. Reconheço os muitos méritos do Bolsonaro, principalmente sua coragem e a oportunidade que ele está nos dando para varrer o PT para a lata de lixo da História Por que o FHC não fez isso? Ele tinha liderança para isso. Ao mesmo tempo, sou obrigado a reconhecer as limitações do Bolsonaro. Não vou falar delas agora porque estamos no calor da disputa e não quero dar munição para os isentões. (P. ex., o Bolsonaro tem muitos filhos.) Admiro muito o General Mourão, pela sua inteligência e carreira, pelo seu equilíbrio e pela sua coragem. Mas admito que o Mourão não tem experiência política. Vou ficar bem esperto. 

O jogo contra o Bolsonaro vai ser duríssimo. Não poderia ser de outra maneira Esse pessoal da esquerda, vermelha ou rosa, não quer largar o osso. Se ele ganhar, a oposição será ferrenha. Ele precisará de muita temperança e habilidade política. 

Pode ser que o Bolsonaro não ganhe. Todos temos medo de alguma fraude. O jogo é muito sujo e pode acontecer de tudo. Mas, mesmo que ele não ganhe a eleição, uma coisa nós já ganhamos. Ganhamos o direito à expressão das nossas idéias, ganhamos o auto-respeito e reconhecimento mútuo. O Clodovil uma vez falou assim: "Boi preto conhece boi preto".  Os conservadores se reencontram e se reconciliaram com seu ideário. Ressurgiu, ou talvez tenha surgido pela primeira vez, uma opinião pública conservadora e democrática no Brasil. 

Conservadorismo esse que não deve nada a ninguém. Eu tenho 61 anos e era criança na época da Revolução de 1964. Na minha mocidade lutei pelas eleições diretas, pela anistia  e pelo fim da censura. Não devo nada a esse pessoal de esquerda. Ser decente voltou a ser respeitável. Não temos mais motivo para vergonha.


Estamos numa encruzilhada. Qualquer escolha implica em riscos. Para quem continua em cima do muro: Não esqueça de que do outro lado é a Venezuela.

Um comentário:

  1. Parabéns professor Vitor pelo excelente texto. Muito esclarecedor e lúcido! Uma honra ter sua amizade! Muito OBRIGADA!

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