quarta-feira, 31 de maio de 2017

MISÉRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Li no FaceBook sobre uma dissertação de mestrado apresentada por um rapaz descolado na Faculdade de Educação da UFJF. Parece que a defesa constituiu-se em uma espécie de happening. Se alguém não acreditar, por favor consulte o repositório de dissertações da UFJF. A orientadora é especialista na área de educação matemática. Sim, a coisa parece inacreditável, mas eu fui conferir. É verdade.

Não consigo parar de ficar chocado com essa história. Se era isso que o moço queria, ele conseguiu. Toda essa farsa testemunha a miséria da educação no Brasil. Miséria acadêmica porque não se trata de uma dissertação mas de acting out puro e simples. Miséria humana porque o moço é obviamente descompensado. Miséria das nossas crianças e adolescenes que podem ter um tipo desses como professor de "diversidade de gênero".

É claro que a sina das crianças e jovens que cairem nas garras desse tipo me preocupa. Seu destino será miserável. Mas não é menor a miséria da liberdade acadêmica ou "liberdade de cátedra". A autonomia e a liberdade de cátedra, junto com a universalidade, a formação e o trinômio ensino-pesquisa-exensão constituem os fundamentos da universidade de pesquisa ou universidade humboldtiana. Esse cara aí e sua orientadora perpetraram um atentado à saúde mental, à scholarship, mas sobretudo á liberdade de cátedra.

Há uns anos tive a oportunidade de trabalhar como revisor de projetos em uma entidade de fomento à pesquisa. Foi uma experiência riquíssima e muito diversificada. Uma coisa que me espantava eram determiinados projetos usando a tal "pesquisa qualitativa", os quais não tinham nem fundamentação teórica, muito menos objetivos claros. Uma das formulações mais típicas de tais projetos consistia no chavão de que o autor iria "problematizar" tal e tal assunto. Ora, o que significa problematizar? Problematizar a falta de senso dessa turma é o que eu estou fazendo aqui. Mas isso não é exatamente pesquisa.

Esses projetos não preenchiam os critérios mínimos de uma pesquisa científica, na minha modesta opinião. Isto é, se entendermos pesquisa como a testagem de hipóteses, como a busca de descrições objetivas de fenômenos e o eventual estabelecimento de relações de causa efeito.

Eu ficava pensando assim. Não é justo que eu aprove financiamento para uma coisa dessas. Isso não é pesquisa. Nem aqui nem na Conchinchina. Por que o pagador de impostos brasileiros precisa arcar com os custos dessa estrovenga? O negócio me causava tanto desconforto, que fico feliz em poder agora desabafar.

O desconforto era tamanho que eu sempre precisava discutir com os meus colegas de comitê. As respostas que eu ouvia era do tipo: "A universidade precisa ser inclusiva, acolhendo uma multiplicidade de perspectivas e metodologias"; "A liberdade de cátedra é um preceito fundamental que não pode ser violado" etc. etc.

E o meu desconforto crescia e crescia. Além de considerar que era um contrasenso econômico financiar tais "pesquisas" eu sentia e sinto que não é eticamente aceitavel financiar pesquisas que não apresentem uma metodologia adequada e que, portanto, não resultarão em nada que preste.

Como meu desconforto crescia e como eu não percebesse uma concordância de opinão e sentimentos por parte dos meus colegas, resolvi me considerar suspeito e parei de avaliar esse tipo de projeto.

Continuo suspeito e muito incomodado com esse estado de coisas. A constatação do ocorrido na UFJF só fez aumentar o meu desconforto.A maior ameaçada é a liberdade acadêmica. Essa farra já passou dos limites há muito tempo. Se isso perdurar, a liberdade acadêmica vai se esvaziar paulatinamente. Liberdade acadêmica não é liberdade para surtar nem para delinqüir. A liberdade de opinião é fundamental. Mas a racionalidade e o decoro também.



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