Eu gostava de chegar cedo, tipo sete horas, e sair cedo, no
máximo seis horas, da Faculdade. Mas tinha dias em que eu precisava ficar até
um pouco mais tarde. Alguns comportamentos dos alunos me chamavam atenção e surpreendiam.
Ao chegar no saguão dos elevadores no andar das salas de aula, era comum ver
uma turma sentada, fumando, bebendo, latinhas de cerveja espalhadas pelo chão.
Sempre tinha alguém que trazia, não sei de onde, um aparelho de som tocando
música estridente. Uma reportagem no Estado de Minas divulgou que alguns alunos
consomem tudo quanto é tipo de drogas. As quais podem ser facilmente adquiridas
na Faculdade.
Ficava sempre com a impressão de que essa turma vinha pra
Federal mais pra socializar do que para estudar. O que mais me intrigava era:
Por que na Federal? Com tanto lugar mais aprazível que eles poderiam
freqüentar, por que vinham justamente para a Federal? Qual o sentido de ocupar
uma vaga em uma universidade federal e, ao invés de estudar, ficar fumando,
bebendo, ouvindo música no volume máximo (atrapalhando os que querem estudar) e
consumindo drogas? Será que é só uma questão de status? Será que eles gostam de
freqüentar a Federal para pagar de intelectual?
Mas não era só isso não. Tinha dias em que esse povo
resolvia atacar durante o dia. Qualquer pretexto era bom: o dia disso ou dia
daquilo. Nesses dias disso ou daquilo, vinham em bando para a Faculdade, já de
manhã cedinho. Traziam bumbos e ficavam circulando pelos corredores, exibindo
cartazes, gritando palavras de ordem e batendo nos seus tambores. Lá pelas
tantas eles se aglomeravam na Arena da Faculdade, ligavam os alto-falantes a
toda e começava a música ou a discurseira. Não sei o que é pior, se a música
ruim ou a discurseira oca. Nesses dias, quem queria ou precisava trabalhar, era
obrigado a ir para casa, para obter um pouco de sossesso e se concentrar no
serviço. A Faculdade era, literalmente, tomada por essa turba e por suas “causas”.
É engraçado que esse pessoal só fica pagando de intelectual.
Sua cultura é reduzida, resumindo-se a alguns chavões que andaram ouvido pelos
corredores e ao apelo de uma retórica esquerdista há muito em desuso, como p.
ex., levantar o punho esquerdo cerrado etc. Será que eles não percebem a
natureza contraditória do seu comportamento? Ao mesmo tempo em que reinvindicam
em favor de suas causas tolhem o direito alheio de estudar e trabalhar. Para
poderem pagar de intelectuais, eles ocupam vagas de pessoas que, eventualmente,
levariam o ensino universitário federal a sério e gostariam de efetivamente
estudar.
Os invasores bárbaros reclamam da falta de verbas para a
educação mas não se pejam de custar de três a quatro mil reais ao pagador
brasileiro de impostos sem corresponder às expectativas que lhes foram
confiadas. Essa semana vi que até mesmo
algumas universidades privadas foram invadidas. Lá na PUCRS a Reitoria agiu de
forma firme e impediu as invasões. Mas alguns reitores, de outras universidades
privadas, foram coniventes ou, até mesmo, estimularam as invasões. Poder-se-ia
perguntar qual é o sentido de invadir uma universidade privada, na qual os
alunos pagam e pagam caro para estudar.
A ficha me caiu essa semana. Alguns pagam. Mas no caso de
muitos, quem paga é o trouxa do trabalhador brasileiro através do FIES. Quer
dizer, não importa se a universidade é pública ou privada, no final da história
quem banca a contado é o pagador de impostos. O burro que trabalha e sustenta
essa cambada, que se dá ao luxo de brincar de utopias. Seria enternecedor ver
os jovens universitários brincado de rodinha, cantando e dançando de mãos
dadas, se isso tudo não fosse financiado com o dinheiro alheio.
Eu sempre me revoltei contra o comportamento dessa gente. Em
quantas sextas-feiras fui obrigado a sair da Faculdade e ir trabalhar em casa
por que o barulho estava ensurdecedor. Eu ia pra casa. Mas ia revoltado.
Bufando pelas ventas, convencido de que se tratava de uma inversão de valores e
propósitos. Eu não imaginava, entretanto, que iria sentir saudades daquele tempo.
É possível imaginar então os meus sentimentos em relação às
atuais invasões de faculdades. Um misto de indignação e revolta. Não é discurso
de ódio não, mas a ira dos justos. Um colega falou assim: “Esses movimentos vão
morrer de inanição”. E ele tinha razão é o que sempre acontece. Greve só
funciona se os grevistas têm o poder de sustar o oferecimento de um serviço
essencial. Estudante não é prestador mas receptor de serviços. Então,
obviamente qualquer movimento paradista dos estudantes sempre acaba morrendo de
inaninação.
Essa morte por inanição faz parte da dinâmica dos
movimentos. Da primeira vez que eu fui atender pacientes na Faculade invadida
chamei a atenção para os cocôs de gatos no corredor. Eles estão, até mesmo,
impedindo o pessoal dos serviços gerais de trabalhar. Vários invasores bárbaros
vieram comentar no meu FaceBook, se jactando de que eles tinham dividido o
trabalho e se encarregariam da limpeza do local.
Ledo engano – deles, não meu. Eles deram conta de fazer isso
uma ou duas semanas. Semana passada estive lá na Faculdade. O negócio virou um
lixão. Tem lixo e cocô de gato espalhado por todo o canto. A situação está tão
dramática que os serviços de atendimento psicológico foram suspensos. Nova
conivência com os invasores, prejudicando assim, professores, alunos e
clientes. Talvez, no início, no entusiasmo, os bárbaros invasores acreditassem
sinceramente que dariam conta de manter a limpeza do prédio. Mas era ilusão
deles. Eles não têm a menor noção da real. Essa turminha que não consegue lavar
a louça em casa não tem condições de manter uma faculdade limpa.
Fazer qualquer movimento tipo paradista em serviços não
essenciais é a maior burrice que tem. Quando os pilotos da Lufthansa fazem
greve, instala-se o caos aéreo no Mudo inteiro e a Companhia precisa resolver
rapidamente a situação. Quando os fiscais da Receita Federal resolvem fazer
operação padrão, o resultado são filas que duram inúmeras horas nos
aeroportos. Quando os estudantes invadem
uma faculdade e paralisam as aulas, pesquisas, atendimentos e serviços
administrativos, não acontece nada.
E o “movimento” vai se esmilingüindo lentamente por
autofagia. A cada dia torna-se mais claro que os objetivos desse movimento são
unicamente o de desestabilizar o atual Governo. Na calada da noite, os
deputados deram um golpe na População, legislando em causa própria, e não se
ouviu uma palavra por parte desses bárbaros invasores. A sua turma estava ali
ao lado do Congresso, jogando molotovs contra a PEC do Teto, mas nenhuma
palavra se ouviu contra a auto-anistia e a Lei da Intimidação. A legislação de
controle orçamentário, o seu pretexto, será aprovada inexoravelmente. O que
eles vão fazer no dia seguinte?
No início, as invasões chamam a atenção da imprensa.
Despertam reações indignadas de alguns poucos professores como eu. Mas o tempo
passa e se instala uma espécie de “normalidade” anormal. As pessoas vão se
adaptando à situação. Podem ficar um pouco raivosas ou entristecidas no início.
Mas logo encontram o que fazer. Constroem uma nova rotina significativa de vida
e tocam o barco. No meu caso, estou escrevendo, finalizando todos os trabalhaos
atrasados que estavam pendurados. Já escrevi um capítulo e concluí três artigos
essa semana. Semana que vem tem mais. Quanto mais tempo essa palhaçada durar,
mais eu vou produzir. Sossegado, no meu cantinho.
Esses movimentos são assim mesmo. Causam muito alvoroço no
início. Com o passar do tempo e como eles não dispensam nenhum serviço
essencial para a população, a coisa vai morrendo por inaninação, se
esmilingüindo. Aliás, as invasões de prédios só ocorreram porque os modos
tradicionais de protesto não funcionam mais para eles. Simplesmente porque eles
não conseguem juntar gente suficiente e estão levando um banho dos brasileiros
decentes que derrubaram a Dilma e vão dar um nó nessa organização criminosa
chamada Congresso Nacional. Assim como as invasões resultam da ineficácia dos
protestos tradicionais por falta de adesão, o terrorismo urbano protagonizado
pela extrema esquerda deriva do fracasso das invasões. Uma coisa é conseqüência
da outra, numa cadeia causal muito clara.
A questão que se coloca então é o que eles farão no dia
seguinte? Qual dia seguinte? Bom, se for o dia seguinte à queda do Temer, então
será a revolução marxista-cultural e eu e muitos outros correremos risco de
vida. Risco de vida sim, porque essa turma não é fácil. Veja o que eles fizeram
em Cuba...
Por outro lado, se o dia seguinte for após a aprovação da
PEC do Teto, eles botarão o rabo no meio das pernas e vão voltar ou continuar a
fazer a única coisa que sabem fazer: transar, fazer dancinha de roda, beber
cerveja e fumar maconha. Tudo financiado pelos brasileiros decentes que pagam
impostos com o suor do seu trabalho.
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