O uso do termo esquerdopatia tem causado considerável controvérsia no
FaceBook. Como sou adepto do seu uso e como não considero que o uso do termo
conote algum tipo de preconceito, vou tentar esclarecer o que eu entendo por esquerdopatia.
Tanto quanto eu me lembro, o termo esquerdopatia foi introduzido na
mídia brasileira pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Segundo Azevedo, a
esquerdopatia é a psicopatia da política. E é nesse sentido que eu uso o termo.
O que significa psicopatia da política? É muito simples e pode-se usar
critérios bem objetivos para definir o que é esquerdopatia. Uma pessoa pode ser
esquerdista sem ser esquerdo-pata. Uma pessoa esquerdista é aquele partidária
de determinados ideais, comumente associados ao igualitarinismo, direitos
humanos etc. O esquerdista “normal” ou de jardim, digamos assim, defende os
seus ideais mas não transgride as leis ou as normas morais. O esquerdopata, ao
contrário, despreza a “moralidade burguesa” e coloca sua causa acima de todos
os demais interesses.
A caracterização de esquerdopatia como uma manifestação política
antissocial e patológica é bem simples. É possível usar dois critérios para
julgar a moralidade de um ato. Um primeiro poderiam ser as intenções. Um
segundo critério poderiam ser a consequências. Tudo pode ser reduzido a uma
questão de meios e fins. Os esquerdopatas são aqueles que aderem ao credo de
que os fins justificam os meios. Assim, se os fins são nobres, politicamente
corretos ect., os meios mais abjetos são admissíveis.
Para o esquerdopata o que importa é a causa, a promoção da sua agenda
política. Ele não está nem aí para os interesses de outras pessoas que pensem
de forma divergente. Uma das categorias de pensamento mais típicas da
esquerdopatia é o “roubo do bem”. Segundo essa perspectiva, um líder político e
seus sequazes podem mentir e roubar à vontade, desde que seja em nome da boa
causa.
Vejamos o caso das invasões às escolas e universidade que ocorrem
atualmente no Brasil. As esquerdas estão meio por baixo no Brasil. Levaram uma
sova nas eleições municipais e suas perspectivas não são muito boas para o
futuro. As velhas estratégias de protesto, como p. ex., a greve e manifestações
não parecem funcionar mais. Então, alguns esquerdistas, os esquerdopatas,
partiram para uma nova estratégia a invasão de prédios públicos. Com a
conivência dos demais esquerdistas, não necessariamente esquerdopatas.
Uma analogia pode ser feita com o caso do Islã. Uma minoria de
islamitas radicais terroriza o mundo, com a conivência dos islamitas
convencionais e supostamente pacíficos.
Por que a invasão de prédios públicos é inaceitável. A resposta a essa
questão é bem simples. Toda invasão envolve algum grau de coerção ou
intimidação. Suponhamos que alguém resolva resistir à invasão, o que acontece?
As consequências são imprevisíveis e podem descambar para o uso da violência.
Assim sendo, as pessoas, inclusive autoridades, se sentem intimidadas e são
coniventes com as invasões.
As invasões seguidas de ocupação de prédios públicos constituem uma
forma de cerceamento da liberdade de ir e vir, obstrução do exercício funcional
de funcionários públicos e, o que é mais grave, quebra do monopólio estatal da
violência.
Um dos pilares do estado democrático de direito é o monopólio pelo
estado do uso da violência. Uma associação civil não pode ser caracterizada
como democrática quando ela se furta ao monopólio estatal do uso da violência.
É o que acontece, p. ex., nas favelas ou no Congresso brasileiro. O Brasil
somente será democrático no momento em que as pessoas das favelas tiverem
acesso à lei e ordem à polícia e à justiça. Por outro lado, o Brasil nunca será
democrático enquanto os políticos ficarem acima da lei.
Uma invasão de prédio público seguida de ocupação cria um espaço, “revolucionário”
diriam alguns, no qual o estado não pode exercer suas funções. Quem e quais
normas de civilidade garantem a lei e a ordem nos espaços públicos invadidos? A
invasão e ocupação de prédios públicos com o alijamento do controle estatal
sobre a lei e a ordem representa uma grave violação do monopólio da violência
pelo estado.
O argumento usado para as invasões é uma espécie de justiça pelas próprias mãos face à ignomínia do
mundo. Uma forma de “justiça coletiva”. Além da violação do monopólio da
violência há vários problemas adicionais
com esse argumento. Os grupelhos que fazem essas invasões não são
representativos das categorias sociais que supostamente deveriam representar.
As assembleias que tomam essas decisões não respeitam o princípio do quórum
mínimo e são amplamente manipuladas por ativistas profissionais. As invasões
cerceiam a liberdade e o interesse de outras pessoas, que não foram consultadas
ou que são alheias `s questões colocadas. Finalmente, não existe
responsabilidade coletiva. A responsabilidade é sempre individual. O que
garante a lei e a ordem são as instituições consensuadas pelos indivíduos.
Na realidade, a atual onda de invasões é uma espécie de doença infantil
do esquerdismo e só reflete sua falta de alternativas, falta de
representatividade e falta de atrativo para a população em geral, inclusive a
mais pobre. A desmoralização das causas esquerdistas causada pelos desmandos e
malfeitos do PT levará alguns anos para ser revertida. Um certo discurso
esquerdista revelou-se uma farsa. A população, inclusive a mais pobre, está
desencantada e descrente.
A psicopatia política não é uma exclusividade da esquerda. À direit a
não faltam genocidas. A teoria da razão de estado foi formulada por Maquiavel
na Renascença. Um dos exemplos mais divertidos de psicopatia política à direita
é uma história atribuída a Lyndon Johnson. Reza a lenda que um diplomata queria
que Johnson retirasse apoio de um notório ditador latino-americano, dizendo que
o cara era um filho da puta. Johnson teria então respondido: “O cara é um filho
da puta. Mas ele é o nosso filho da puta!”.
Mas os esquerdopatas têm uma longa tradição e vêm refinando sua prática.
Um opúsculo de Trotski sobre “a nossa moral e a deles” é o exemplo mais acabado
do pensamento esquerdopata. A idéia básica é essa que foi exposta acima, se a
causa nobre, valem os métodos mais abjetos. Isso é que se chama de
esquerdopatia.
Não acho que o uso do termo
esquerdopatia implique em alguma forma de preconceito por parte do emissor. Ao
contrário, acho que constitui mais um desafio aos esquerdistas que não se
identificam com a antisocialidade. Assim como muitos muçulmanos se sentem
intimidados e não se manifestam contra o terrorismo, acho que existem muitos
esquerdistas decentes que têm medo de se pronunciar contra comportametnos
esquerdopatas. É compreensível, uma vez que todos nos sentimos intimidados
pelos comportamentos antissociais e pela falta de lei e ordem no nosso País.
NOTA TÉCNICA
Uma caracterização mais precisa da esquerdopatia como forma de
comportamento anti-social pode ser facilmente realizada consultando o DSM-5 ou
Manual Diagnóstico e Estatístico da American Psychiatric Association (APA,
2013). O trecho citado a seguir caracteriza o transtorno anti-social de
personalidade. Ou seja, uma condição na qual o indivíduo tende a emitir
recorrentemente comportamentos anti-sociais. É interessante observar como a
maioria dos critérios se aplica à esquerdopatia. Será que não são a mesma
coisa?
“The essential feature of
antisocial personality disorder is a pervasive pattern of disregard for, and
violation of, the rights of others that begins in childhood or early
adolescence and continues into adulthood. This pattern has also been referred
to as psychopathy, sociopathy, or dyssocial personality disorder […].
]The individual] “must have
had a history of some symptoms of conduct disorder before age 15 years (Criterion
C). Conduct disorder involves a repetitive and persistent pattern of behavior
in which the basic rights of others or major age-appropriate societal norms or
rules are violated. The specific behaviors characteristic of conduct disorder
fall into one of four categories: aggression to people and animals, destruction
of property, deceitfulness or theft, or serious violation of rules.
“The pattern of antisocial
behavior continues into adulthood. Individuals with antisocial personality
disorder fail to conform to social norms with respect to lawful behavior (Criterion
Al). They may repeatedly perform acts that are grounds for arrest (whether they are arrested or not),
such as destroying property, harassing others, stealing, or pursuing illegal
occupations. Persons with this disorder disregard the wishes, rights, or
feelings of others. They are frequently deceitful and manipulative in order to
gain personal profit or pleasure (e.g., to obtain money, sex, or power)
(Criterion A2). They may repeatedly lie, use an alias, con others, or malinger
[…]. These individuals also display a reckless disregard for the safety of
themselves or others (Criterion A5). This may be evidenced in their driving
behavior (i.e., recurrent speeding, driving while intoxicated, multiple
accidents). They may engage in sexual behavior or substance use that has a high
risk for harmfulconsequences. They may
neglect or fail to care for a child in a way that puts the child in danger.
“Individuals with antisocial
personality disorder also tend to be consistently and extremely irresponsible
(Criterion A6). Irresponsible work behavior may be indicated by significant periods
of unemployment despite available job opportunities, or by abandonment of
several jobs without a realistic plan for getting another job. There may also
be a pattern of repeated absences from work that are not explained by illness
either in themselves or in their family. Financial irresponsibility is
indicated by acts such as defaulting on debts, failing to provide child
support, or failing to support other dependents on a regular basis. Individuals
with antisocial personality disorder show little remorse for the consequences
of their acts (Criterion A7). They may be indifferent to, or provide a
superficial rationalization for, having hurt, mistreated, or stolen from
someone (e.g., 'Tife's unfair," "losers deserve to lose"). These
individuals may blame the victims for being foolish, helpless, or deserving
their fate (e.g., "he had it coming anyway"); they may minimize the
harmful consequences of their actions; or they may simply indicate complete
indifference. They generally fail to compensate or make amends for their
behavior. They may believe that everyone is out to "help number one"
and that one should stop at nothing to avoid beingpushed around” […] (American Psychiatric Association, 2013, pp.
659-660).
Referência
American Psychiatric
Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disoders. DSM-5 (5th ed.). Washington,
DC: American Psychiatric Press.
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