A universidade na qual trabalho tem mais de três
mil professores. Uma assembléia de 453 professores se reuniu essa semana e
resolveu que nós devemos entrar em greve. Sem entrar no mérito da greve em si,
gostaria aqui de questionar se um grupo composto por 453 professores pode
decidir que mais de três mil se perfilem à sua agenda política. A mim parece
que um princípio democrático importante, o quórum mínimo, cultivado em todas as
instâncias colegiadas das universidades brasileiras, não está sendo respeitado.
Se apenas pouco mais de quatro centenas dos professores compareceram a essa
assembléia, é porque os outros não estavam interessados no assunto.
Pergunto aos meus amigos, de verdade, do FaceBook,
que eventualmente tenham expertise na
área do Direito, se estarei cometendo algum ilícito por não aderir à greve. Se
eu não aderir à greve estarei violando algum princípio constitucional, alguma
legislação ordinária, o estatuto ou o regimento da minha universidade? Ou serei
apenas submetido à execração pública dos 453 que resolveram, sem procuração
para isso, me colocar em greve?
Caro João Furtado, parabéns pelo seu post. Mais uma
vez, você demonstra seu espírito crítico e, ao mesmo tempo, comedimento.
Infelizmente, meu ânimo não é tão sereno assim. Estou revoltado com os
acontecimentos recentes.
Tem gente que fica falando em democracia e
diversidade. Mas não se peja de patrolar os outros. Vamos ficar na questão da
diversidade. Dependendo da área em que o professor trabalha, tanto faz se a
faculdade está invadida ou se ele está em greve ou não. Dependendo da sua área
de especialização, muitos professores podem continuar trabalhando
sossegadamente em casa. Produzindo seus artigos e livros, orientando seus
alunos de IC e PG com a mesma ou, talvez, melhor qualidade.
Em outras áreas de trabalho é bem diferente. Os
professores dependem do funcionamento de laboratórios e de ambulatórios para
realizar suas pesquisas. Dependem do livre acesso de colaboradores e pacientes.
Dependem de equipamento e financiamento. Têm prazos para cumprir, precisam
fazer prestações de contas e relatórios.
Há diferenças também no que diz respeito à fase da
vida e da carreira. Professores no apogeu ou no fim da carreira podem, muitas
vezes, ser absorvidos no trabalho, quer seja pela gratificação intrínseca em
pesquisar e ensinar, quer seja por uma sensação de urgência ou necessidade de
completar uma obra de décadas antes de se aposentar.
Será que docentes produtivos, pesquisadores,
envolvidos em projetos de pesquisa e de extensão cientiifca e socialmente
relevantes são obrigados a se submeter aos ditames de uma agenda política com a
qual não concordam? Isso é democracia?
O meu sentimento é de mais profunda revolta. Estou sendo
impedido de fazer aquilo para o qual o pagador de impostos de paga. Estou sendo
impedido de exercer um ofício e uma missão paras os quais me preparei e investi
décadas de trabalho e os quais acredito serem importantes. Sinto-me desprezado.
Sinto que o meu trabalho é irrelevante frente a uma agenda política.
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