sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

RESCALDO DAS INVASÕES: O QUE É UMA UTOPIA?



Estou de férias. De modo que ainda não retornei à FAFICH nesse início de ano, após a invasão ocorrida no ano passado. Pelo que soube a administração da FAFICH e o pessoal da limpeza tiveram bastante trabalho para deixar o prédio habitável novamente. A partir das fotos que estão sendo postadas por alguns colegas, dá para se ver que, apesar do empenho, a FAFICH ainda apresenta algumas marcas ou “lembranças” dos invesores. Por outro lado, a "criatividade" dos jovens invasores nos incita a uma reflexão sobre o conceito de utopia.

Em uma das pichações o pessoal escreveu assim: “Gasolina neles”. Eu me senti muito intimidado com isso. Pensei que talvez eu possa ser o alvo dessa “microagressão”. Ainda que eles não tenham, explicitamente, mencionado meu nome. Será que vou precisar recorrer à Ouvidoria da UFMG, para que eles me proporcionem algum tipo de aconselhamento psicológico ou alguma safe house na qual eu possa me sentir mais protegido dos incendiários em potencial?



Na outra pichação o pessoal declara que a única utopia possível é centrada no órgão excretório que faz o “número dois”, como as crianças e professoras costumam falar no jardim da infância. Aliás o comportamento todo e as expressões intelectuais dessa turma de invasores e pichadores de prédios público leva a algumas interrogações quanto à sua maturidade. Para não falar da sanidade mental.



Acho meio difícil de compreender o que se passa na cabeça dessa turma que fica invadindo faculdade e pichando parede com besteira. Fico um pouco confuso, mas tenho algumas hipóteses. E nenhuma delas é muito lisonjeira para eles. Foram eles próprios que deram a dica, através do conteúdo das suas pichações. Ao associarem explicitamente o seu comportamento com alguma suposta utopia, eles estão dizendo que o mundo tal como existe não é bom que chegue pra eles. Que o mundo precisa ser primeiramente destruído, para ser posteriormente reconstruído. Supostamente assentado sobre bases mais racionais, igualitárias e libertárias.

Ou talvez o mundo seja bom demais pra eles. De acordo com essa hipótese, eles se perceberiam como excluídos, marginalizados, como imerecedores de um mundo brutal, injusto e desigual. De qualquer forma, fica a clara a incongruência entre o seu desejo e o estado do mundo. Daí a necessidade de utopia, de destruição para, talvez, propiciar uma reconstrução em novas bases. De qualquer forma, a julgar pela tolerância da administração central da universidade, até que o mundo tem sido bem tolerante com eles. Tolerante talvez demais.

Será que os caras não percebem que eles são parte de uma elite? Isso mesmo, de uma elite. Quer reconheçam, ou não, eles são da elite. Foram selecionados no ENEM, têm a oportunidade de estudar em uma das melhores universidades, com os melhores professores. Os mais pobres dentre eles têm toda uma assistência social pela FUMP. 

Essas coisas todas custam muito caro para os pagadores de impostos. Ou seja, para a massa  de cidadãos que trabalha, não usufrui dessas benesses e nos sustenta. Eu esperaria que, no mínimo, eles se sentissem gratos e obrigados a preservar e enriquecer esse patrimônio. E não se dessem ao luxo de destruí-lo nos dois sentidos. No sentido físico, como se vê na parede pichada. E no sentido intelectual, como se atesta pela sua pobreza de espírito. 

Fico pensando que na infância, ou eles ganharam carinho de mais, ou de menos. Os que foram mimados, se colocam no centro de tudo e acreditam que o mundo deve se curvar à sua vontade. Os que ganharam carinho de menos sentem raiva e revolta e se julgam no direito de destruir o mundo, também para refazê-lo à sua vontade. 

As duas experiências podem ainda interagir. Muitos ganharam carinho de menos porque seus pais estavam imersos nas próprias agendas narcisistas. Talvez os pais estivem tão envolvidos nos seus dramas profissionais, conjugais e existenciais que não pudessem propiciar o cuidado necessário aos seus filhos.  Um tipo de carinho de menos pode então ser compensando por outro tipo de carinho de mais, sob a forma de indulgência excessiva manifestada pelo acesso desenfreado a bens de consumo ou ausência de disciplina. 

Seja qual for a hipótese que corresponda à realidade, o resultado é sempre o mesmo. O mundo não corresponde à expectativa dos invasores de prédios e pichadores de parede. Então eles ficam com raivinha, fazem pirracinha e o mundo precisa se adequear à sua vontadezinha. Acho que é isso que eles entendem por utopia. Independentemente de qual seja a causa, falta ou excesso de carinho, o resultado é o mesmo: o narcisismo. Eles ficam se sentindo “os bacanas”. Os caras que querem melhorar o mundo. O resto todo – ou seja nós que só queremos tocar a vida – somos escória moral.

Quem procede como os invasores e pichadores se comportaram. não consegue assumir a perspectiva dos outros. Em psicologia isso tem nome: déficit em mentalização ou teoria da mente. O qual é obsevado em casos de autismo ou psicopatia.

Ou o cara se coloca numa posição de autoridade, à qual todos devem se curvar, ou erige o seu tormento existencial, real ou imaginário, em categoria ontológica primordial. Sem a menor consideração pelos interesses e direitos alheios. Sem que se perceba a menor necessidade de sentir e expressar gratidão pela oportunidade que estão tendo na vida e desperdiçando. 

Sim, porque os invasores e pixadores estão jogando no lixo a chance que teriam para aprender alguma coisa. Esse povo que vai pra faculdade fazer crédito no centro acadêmico não aprende nada de útil. Nada que contribua para o bem-estar próprio ou alheio. Não aprende a ler, interpretar e escrever um texto, não aprende a debater de forma intelectualmente honesta, não aprende a aceitar a diversidade de perspectivas políticas e religiosas, não aprende uma profissão. 

A única coisa que eles aprendem é a implementar a agenda destrutiva do marxismo cultural. Depois de se formarem não lhes restará outra alternativa a não ser continuar fazendo a única coisa que sabem fazer. As únicas entidades que se disporão a lhes pagar um salário para isso serão os partidos políticos fora da casinha e as pseudo-ONGs picaretas sustentadas a peso de ouro pelo estado. Ganharão salário mínimo para "trabalhar" meio expediente. No contra-turno se ocuparão de fumar maconha no milharal e de-formar a próxima geração de idiotas úteis. 

Mas tudo o que eu falei até agora, só se aplica à perspectiva pessoal dos invasores. Se formos nos perguntar pela perspectiva alheia, dos pagadores de impostos e professores e estudantes que querem trabalhar e estudar, a coisa ficará mais feia ainda. Além da auto-referenciação moral que caracteriza as manifestações psicopatológicas, revelar-se-á a face totalitária da utopia. Ou seja, quem se contrapuser ao seu caminho será patrolado pelos mecanismos mais primitivos e de groupthinking sobre os quais as ditaduras são construídas e mantidas. 

E tudo isso aconteceu e acontece sob o beneplácito de muitos colegas professores, da administração universitária e do Ministério Público. Subjacente a essas malcriações se esconde o desejo de solapar o estado democrático de direito e substituí-lo por uma utopia perversa e totalitária. A desgraceira toda do Século XX não ensinou a essa gente o quanto as utopias podem ser nefastas? Mas triste mesmo é ver que não há novidade nenhuma nisso tudo. A História fica perpetuamente se repetindo. Cada vez de forma mais farsesca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário