domingo, 4 de dezembro de 2016

A CORREÇÃO POLÍTICA É A NOVA CORTESIA ACACIANA



A leitura de alguns comentários isentões no FaceBook me lembrou do Conselheiro Acácio. Pareceu-me, que se o Conselhereiro ainda fosse vivo, certamente seria politicamente correto.   Fiquei com saudades do Conselheiro Acácio e fui dar uma olhada no Google. Achei um artigo muito interessante de Ana Luisa Vilela (2013).

O Conselheiro seguia obsequiosamente as três regras fundamentais da cortesia mencionadas por Peter Burke: “[a] nunca exprimir, quer por atos quer por palavras, nenhuma ofensa ou falta de respeito a quem quer que seja; [b] nunca assumir quaisquer ofensas ou faltas de respeito de outras pessoas, isto é, suportar todas as palavras ou atos que poderiam racionalmente ser interpretados como ofensa ou falta de respeito; [c] estar pronto a efetuar todos os bons ofícios e atos de bondade em relação aos outros” (cit. In Vilela, 2013, p. 68). Não é o retrato do isentão politicamente correto contemporâneo?

Mas a cortesia não precisa ser somente altruísta. Ela tem sua dimensão egoísta também. Tal como a cortesia de Acácio, a correção política contemporânea serve para distinguir os inteligentinhos da ralé preconceituosa. Os inteligentinhos jamais expressam preconceito contra as categorias que escolheram privilegiar. Jamais tripudiam, jamais se servem da ironia ou sarcasmo. A não ser contra aquelas categorias não contempladas pelo seu pensamento progressista. São os ungidos, os donos da verdade. Bem que nem o Acácio, também não têm senso de humor. Fazem piada de si mesmos apenas involuntariamente.

Uma diferença precisa, entretanto, ser sublinhada. Enquanto o Conselheiro Acácio era feliz, os seus sucedâneos contemporâneos adoram posar de vítimas enquanto gozam das benesses e da liberdade propiciadas pelo Capitalismo e pelo Patriarcado.


REFERÊNCIA

Vilela, A. L. (2013). Cortesias acacianas: ironia e boas maneiras. Navegações,6, 67-76 .

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