quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

É proibido proibir: Auto-interdição do politicamente correto



A ideologia do politicamente correto está acabando com a Universidade. É curioso que, na sanha de descontruir a Universidade, a correção política pode se auto-forcluir. Uma deliciosa história contada por William Clark (2006) sugere que a fúria proibicionista do politicamente correta pode reservar-lhe o mesmo destino do Índex Austríaco, o “Catalogus Librorum rejectorum per Consessum”.



Clark conta que, aí pela metade do Século XVIII, as elites intelectuais austríacas não agüentavam mais a tutela dos Jesuítas. A Imperatriz Maria Theresa resolveu então permitir que leigos assumissem encargos didáticos no Império Austro-Húngaro. Qual foi a primeira coisa que os iluminados fizeram? Instituiram um Índex de livros proibidos, tal como faziam os Jesuítas.

Parece que o tal catálogo dos livros proibidos acabou virando um sucesso. Até o Werther do Goethe entrou na festa. O negócio virou um best-seller. Editoras privadas passaram a imprimí-lo. O Catálogo acabou virando uma espécie de “Who is who” da Cultura Germânica. Se você quisesse escolher um livro interessante para ler ou descobrir colegas com idéias originais, bastava consultar o tal Catálogo. Assim a estrovenga ganhou uma utilidade imprevista. Dizem que o sucesso foi tanto, que o Catálogo acabou se auto-proibindo.

Tomara que aconteça a mesma coisa com o politicamente correto. O negócio está tão ridículo que eu tenho usado a correção política como guia especular para descobrir a verdade. Se alguma idéia é considerada politicamente incorreta, então ela pode ter alguma coisa de verdade. Tomara que no afã de proibir o preconceinto, eles acabem por proibir o preconceito de não ter preconceitos. Infelizmente, a Universidade pode não sobreviver até lá.

Referência

Clark, W. (2006). Academic charisma and the origins of the research university.  Chicago: Chicago University Press.

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