domingo, 4 de dezembro de 2016

AS INVASÕES VÃO MORRER DE INANIÇÃO


Eu gostava de chegar cedo, tipo sete horas, e sair cedo, no máximo seis horas, da Faculdade. Mas tinha dias em que eu precisava ficar até um pouco mais tarde. Alguns comportamentos dos alunos me chamavam atenção e surpreendiam. Ao chegar no saguão dos elevadores no andar das salas de aula, era comum ver uma turma sentada, fumando, bebendo, latinhas de cerveja espalhadas pelo chão. Sempre tinha alguém que trazia, não sei de onde, um aparelho de som tocando música estridente. Uma reportagem no Estado de Minas divulgou que alguns alunos consomem tudo quanto é tipo de drogas. As quais podem ser facilmente adquiridas na Faculdade.

Ficava sempre com a impressão de que essa turma vinha pra Federal mais pra socializar do que para estudar. O que mais me intrigava era: Por que na Federal? Com tanto lugar mais aprazível que eles poderiam freqüentar, por que vinham justamente para a Federal? Qual o sentido de ocupar uma vaga em uma universidade federal e, ao invés de estudar, ficar fumando, bebendo, ouvindo música no volume máximo (atrapalhando os que querem estudar) e consumindo drogas? Será que é só uma questão de status? Será que eles gostam de freqüentar a Federal para pagar de intelectual?

Mas não era só isso não. Tinha dias em que esse povo resolvia atacar durante o dia. Qualquer pretexto era bom: o dia disso ou dia daquilo. Nesses dias disso ou daquilo, vinham em bando para a Faculdade, já de manhã cedinho. Traziam bumbos e ficavam circulando pelos corredores, exibindo cartazes, gritando palavras de ordem e batendo nos seus tambores. Lá pelas tantas eles se aglomeravam na Arena da Faculdade, ligavam os alto-falantes a toda e começava a música ou a discurseira. Não sei o que é pior, se a música ruim ou a discurseira oca. Nesses dias, quem queria ou precisava trabalhar, era obrigado a ir para casa, para obter um pouco de sossesso e se concentrar no serviço. A Faculdade era, literalmente, tomada por essa turba e por suas “causas”.

É engraçado que esse pessoal só fica pagando de intelectual. Sua cultura é reduzida, resumindo-se a alguns chavões que andaram ouvido pelos corredores e ao apelo de uma retórica esquerdista há muito em desuso, como p. ex., levantar o punho esquerdo cerrado etc. Será que eles não percebem a natureza contraditória do seu comportamento? Ao mesmo tempo em que reinvindicam em favor de suas causas tolhem o direito alheio de estudar e trabalhar. Para poderem pagar de intelectuais, eles ocupam vagas de pessoas que, eventualmente, levariam o ensino universitário federal a sério e gostariam de efetivamente estudar.

Os invasores bárbaros reclamam da falta de verbas para a educação mas não se pejam de custar de três a quatro mil reais ao pagador brasileiro de impostos sem corresponder às expectativas que lhes foram confiadas.  Essa semana vi que até mesmo algumas universidades privadas foram invadidas. Lá na PUCRS a Reitoria agiu de forma firme e impediu as invasões. Mas alguns reitores, de outras universidades privadas, foram coniventes ou, até mesmo, estimularam as invasões. Poder-se-ia perguntar qual é o sentido de invadir uma universidade privada, na qual os alunos pagam e pagam caro para estudar.

A ficha me caiu essa semana. Alguns pagam. Mas no caso de muitos, quem paga é o trouxa do trabalhador brasileiro através do FIES. Quer dizer, não importa se a universidade é pública ou privada, no final da história quem banca a contado é o pagador de impostos. O burro que trabalha e sustenta essa cambada, que se dá ao luxo de brincar de utopias. Seria enternecedor ver os jovens universitários brincado de rodinha, cantando e dançando de mãos dadas, se isso tudo não fosse financiado com o dinheiro alheio.

Eu sempre me revoltei contra o comportamento dessa gente. Em quantas sextas-feiras fui obrigado a sair da Faculdade e ir trabalhar em casa por que o barulho estava ensurdecedor. Eu ia pra casa. Mas ia revoltado. Bufando pelas ventas, convencido de que se tratava de uma inversão de valores e propósitos. Eu não imaginava, entretanto, que iria sentir saudades daquele tempo.

É possível imaginar então os meus sentimentos em relação às atuais invasões de faculdades. Um misto de indignação e revolta. Não é discurso de ódio não, mas a ira dos justos. Um colega falou assim: “Esses movimentos vão morrer de inanição”. E ele tinha razão é o que sempre acontece. Greve só funciona se os grevistas têm o poder de sustar o oferecimento de um serviço essencial. Estudante não é prestador mas receptor de serviços. Então, obviamente qualquer movimento paradista dos estudantes sempre acaba morrendo de inaninação.

Essa morte por inanição faz parte da dinâmica dos movimentos. Da primeira vez que eu fui atender pacientes na Faculade invadida chamei a atenção para os cocôs de gatos no corredor. Eles estão, até mesmo, impedindo o pessoal dos serviços gerais de trabalhar. Vários invasores bárbaros vieram comentar no meu FaceBook, se jactando de que eles tinham dividido o trabalho e se encarregariam da limpeza do local.

Ledo engano – deles, não meu. Eles deram conta de fazer isso uma ou duas semanas. Semana passada estive lá na Faculdade. O negócio virou um lixão. Tem lixo e cocô de gato espalhado por todo o canto. A situação está tão dramática que os serviços de atendimento psicológico foram suspensos. Nova conivência com os invasores, prejudicando assim, professores, alunos e clientes. Talvez, no início, no entusiasmo, os bárbaros invasores acreditassem sinceramente que dariam conta de manter a limpeza do prédio. Mas era ilusão deles. Eles não têm a menor noção da real. Essa turminha que não consegue lavar a louça em casa não tem condições de manter uma faculdade limpa.

Fazer qualquer movimento tipo paradista em serviços não essenciais é a maior burrice que tem. Quando os pilotos da Lufthansa fazem greve, instala-se o caos aéreo no Mudo inteiro e a Companhia precisa resolver rapidamente a situação. Quando os fiscais da Receita Federal resolvem fazer operação padrão, o resultado são filas que duram inúmeras horas nos aeroportos.  Quando os estudantes invadem uma faculdade e paralisam as aulas, pesquisas, atendimentos e serviços administrativos, não acontece nada.

E o “movimento” vai se esmilingüindo lentamente por autofagia. A cada dia torna-se mais claro que os objetivos desse movimento são unicamente o de desestabilizar o atual Governo. Na calada da noite, os deputados deram um golpe na População, legislando em causa própria, e não se ouviu uma palavra por parte desses bárbaros invasores. A sua turma estava ali ao lado do Congresso, jogando molotovs contra a PEC do Teto, mas nenhuma palavra se ouviu contra a auto-anistia e a Lei da Intimidação. A legislação de controle orçamentário, o seu pretexto, será aprovada inexoravelmente. O que eles vão fazer no dia seguinte?

No início, as invasões chamam a atenção da imprensa. Despertam reações indignadas de alguns poucos professores como eu. Mas o tempo passa e se instala uma espécie de “normalidade” anormal. As pessoas vão se adaptando à situação. Podem ficar um pouco raivosas ou entristecidas no início. Mas logo encontram o que fazer. Constroem uma nova rotina significativa de vida e tocam o barco. No meu caso, estou escrevendo, finalizando todos os trabalhaos atrasados que estavam pendurados. Já escrevi um capítulo e concluí três artigos essa semana. Semana que vem tem mais. Quanto mais tempo essa palhaçada durar, mais eu vou produzir. Sossegado, no meu cantinho.

Esses movimentos são assim mesmo. Causam muito alvoroço no início. Com o passar do tempo e como eles não dispensam nenhum serviço essencial para a população, a coisa vai morrendo por inaninação, se esmilingüindo. Aliás, as invasões de prédios só ocorreram porque os modos tradicionais de protesto não funcionam mais para eles. Simplesmente porque eles não conseguem juntar gente suficiente e estão levando um banho dos brasileiros decentes que derrubaram a Dilma e vão dar um nó nessa organização criminosa chamada Congresso Nacional. Assim como as invasões resultam da ineficácia dos protestos tradicionais por falta de adesão, o terrorismo urbano protagonizado pela extrema esquerda deriva do fracasso das invasões. Uma coisa é conseqüência da outra, numa cadeia causal muito clara.

A questão que se coloca então é o que eles farão no dia seguinte? Qual dia seguinte? Bom, se for o dia seguinte à queda do Temer, então será a revolução marxista-cultural e eu e muitos outros correremos risco de vida. Risco de vida sim, porque essa turma não é fácil. Veja o que eles fizeram em Cuba...

Por outro lado, se o dia seguinte for após a aprovação da PEC do Teto, eles botarão o rabo no meio das pernas e vão voltar ou continuar a fazer a única coisa que sabem fazer: transar, fazer dancinha de roda, beber cerveja e fumar maconha. Tudo financiado pelos brasileiros decentes que pagam impostos com o suor do seu trabalho.

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