quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O ÔNUS DA PROVA: A PSICOLOGIA DA CORREÇÃO POLÍTICA



As acusações de preconceito são um modo fácil de paralisar o adversárioe “vencer” discussões bem como de tirar vantagens ou galgar fama. Contudo, as falsas acusações de preconceito e sua banalização estão criando uma situação similar à do personagem de “Pedro e o Lobo”. Dizia o Goebbels que uma mentira insistentemente repetida acaba sendo aceita como verdade. Mas  há também o risco de que a repetição incessante de uma ladainha contribua para desacreditá-la.


 Um ou dois dias antes do Natal eu estava na casa de uns parentes assistindo a um programa na GloboNews - Ou deveria dizer GoebbelsNews? Uma das matérias que eles apresentaram era sobre um jovem deorigem árabe que supostamente teria sido expulso de um avião da Delta Airlinessimplesmente por falar ao telefone com sua mãe em árabe.

O relato dos fatos em si até que era razoável. O locutor deixou claro que se tratava de alegações do jovem. Mas as diatribes dos três comentaristas do programa eram de doer. Os comentaristas se declararam indignados por mais uma manifestação de racismo, intolerância e sei eu lá o quê mais. Os comentaristas pareciam se regojizar com mais uma demonstração de intolerância dos malvadões cristãos e ocidentais contra os pobres muçulmanos, seguidores de uma “religião da paz” e vítimas do imperialismo ocidental. Parecia que mais uma vez, o Ocidente civilizado precisaria se curvar à barbárie para não ser rotulado com os piores epítetos.

Achei a história toda muito suspeita e fui fazer o trabalho que os jornalistas da GoebbelsNews deveriam ter feito. Ou se fizeram, preferiram omitir. Fui ao Google e descobri que o rapaz em questão é um YouTuber famoso por fazer pegadinhas. A técnica dele consiste em irritar as pessoas para gravar suas reações. Segundo um passageiro entrevistado pelo Independent, o cara pediu a um comparsa que se levantasse e se pusesse a segritar em árabe no corredor do avião. Os outros passageiros se iincomodaram e lhe pediram que parasse com aquilo. Como não parasse, foram se queixar à tripulação e o cara foi expulso.

Admito que a “pesquisa” que fiz é superficial e não permite uma conclusão definitiva sobre o que de fato aconteceu. Mas a obrigação dos jornalistas da GoebbelsNews era justamente essa de pesquisar e de deixar claro que a coisa era nebulosa. É o que eles deveriam ter feito, se fossem honestos e caso o seu interesse fosse informar o distinto público. Resta a suspeita de que eles estão mais interessados em implementar uma agenda politicamente correta e fazer proselitismo esquerdista vagabundo do que em informar o distinto público.

Essa história do YouTuber árabe me lembrou de outra, ocorrida há alguns anos. A mídia fez o maior alarde com as alegações de uma brasileira, que se dizia grávida e que teria sido agredida a facadas porsupostos neonazistas na Suiça. A história rendeu um escarcéu que se prolongou por diversos dias. O consulado brasileiro na Suiça foi acionado e cobrou explicações do governo deste país. A mídia toda se mostrou indignada com mais uma suposta manifestação de racismo, sexismo etc.

Ao final a verdade acabou aparecendo. A partir dos exames médico-legais descobriu-se que o padrão de lesões indicava que os cortes haviam sido auto-infligidos e que a moça não estava grávida. A moça acabou confessando que havia inventado a história toda. Houve, inclusive, suspeitas de que a história toda fosse uma versão do golpe do baú. Se bem me lembro, parece que quando morava no Rio de Janeiro ela tinha tido episódios de pseudociese.

Essas duas histórias são reveladoras de um padrão recorrente. Mesmo quem acompanha o noticiário atentamente acaba se esquecendo  e não consegue ligar um episódio com o outro. Felizmente, o Google nos ajuda a recuperar as informações pertinentes de forma objetiva. O padrão é o seguinte. Uma pessoa emocionalmente desajustada faz uma acusação de racismo (ou outro preconceito qualquer) contra uma pessoa ou instituição que tem telhado de vidro. O episódio vira notícia, provoca um banzé, e a verdade dos fatos fica em segundo plano. O ônus da prova é transferido do acusador para o acusado. Afinal, o acusador sempre pertence a alguma categoria preferencial de vítima do preconceito.

Esses episódios chamam atenção para duas coisas muito chatas. A primeira delas é a Lei de Goodwin  ou falácia da reductio ad Hitlerum. A redução ao hitlerismo é uma das piores cafajestadas intelectuais. É o pseudoargumento do qual lançam mão aqueles que sabem que perderam a discussão, mas que não querem entregar a rapadura. É uma vilania extremamente eficiente porque bloqueia o adversário. Ao ser acusada de racismo a Delta Airlines tem que dar um monte de explicações, pedir desculpas etc. ou produzir provas de que o cara é um psicopata. O Governo da Suiça, por outro lado, teve que produzir provas de que a moça é uma maluca. Caso contrário teria que se desculpar, pagar indenização etc. Sempre a mesma ladainha.

Isso nos leva ao segundo ponto. A banalização das acusações de preconceito e sua eficácia em despertar reações morais indignadas dos esquerdolas cria a tentação de levantar acusações falsas, das quais os emocionalmente desajustados e mal-intencionados sabem se servir com maestria. E o pior é que chamar atenção para o fato de que o cara é um psicopata ou de que a moça é uma borderline só desencadeia acusações de estar querendo “responsabilizar a vítima” etc.

A ideologia politicamente correta está promovendo uma banalização das acusações de preconceitos de quanto quanto é espécie, tais como racismo, machismo, homofobia etc. O maior perigo é cairmos na mesma situação de “Pedro e o Lobo”. A banalização da luta contra o preconceito pode bagatelizar ou dificultar o reconhecimento de situações nas quais pessoas sejam efetivamente vítimas de preconceito.

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