domingo, 4 de dezembro de 2016

O QUE É ESQUERDOPATIA?



O uso do termo esquerdopatia tem causado considerável controvérsia no FaceBook. Como sou adepto do seu uso e como não considero que o uso do termo conote algum tipo de preconceito, vou tentar esclarecer o que eu entendo por esquerdopatia.

Tanto quanto eu me lembro, o termo esquerdopatia foi introduzido na mídia brasileira pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Segundo Azevedo, a esquerdopatia é a psicopatia da política. E é nesse sentido que eu uso o termo.

O que significa psicopatia da política? É muito simples e pode-se usar critérios bem objetivos para definir o que é esquerdopatia. Uma pessoa pode ser esquerdista sem ser esquerdo-pata. Uma pessoa esquerdista é aquele partidária de determinados ideais, comumente associados ao igualitarinismo, direitos humanos etc. O esquerdista “normal” ou de jardim, digamos assim, defende os seus ideais mas não transgride as leis ou as normas morais. O esquerdopata, ao contrário, despreza a “moralidade burguesa” e coloca sua causa acima de todos os demais interesses.

A caracterização de esquerdopatia como uma manifestação política antissocial e patológica é bem simples. É possível usar dois critérios para julgar a moralidade de um ato. Um primeiro poderiam ser as intenções. Um segundo critério poderiam ser a consequências. Tudo pode ser reduzido a uma questão de meios e fins. Os esquerdopatas são aqueles que aderem ao credo de que os fins justificam os meios. Assim, se os fins são nobres, politicamente corretos ect., os meios mais abjetos são admissíveis.

Para o esquerdopata o que importa é a causa, a promoção da sua agenda política. Ele não está nem aí para os interesses de outras pessoas que pensem de forma divergente. Uma das categorias de pensamento mais típicas da esquerdopatia é o “roubo do bem”. Segundo essa perspectiva, um líder político e seus sequazes podem mentir e roubar à vontade, desde que seja em nome da boa causa.

Vejamos o caso das invasões às escolas e universidade que ocorrem atualmente no Brasil. As esquerdas estão meio por baixo no Brasil. Levaram uma sova nas eleições municipais e suas perspectivas não são muito boas para o futuro. As velhas estratégias de protesto, como p. ex., a greve e manifestações não parecem funcionar mais. Então, alguns esquerdistas, os esquerdopatas, partiram para uma nova estratégia a invasão de prédios públicos. Com a conivência dos demais esquerdistas, não necessariamente esquerdopatas.

Uma analogia pode ser feita com o caso do Islã. Uma minoria de islamitas radicais terroriza o mundo, com a conivência dos islamitas convencionais e supostamente pacíficos.

Por que a invasão de prédios públicos é inaceitável. A resposta a essa questão é bem simples. Toda invasão envolve algum grau de coerção ou intimidação. Suponhamos que alguém resolva resistir à invasão, o que acontece? As consequências são imprevisíveis e podem descambar para o uso da violência. Assim sendo, as pessoas, inclusive autoridades, se sentem intimidadas e são coniventes com as invasões.

As invasões seguidas de ocupação de prédios públicos constituem uma forma de cerceamento da liberdade de ir e vir, obstrução do exercício funcional de funcionários públicos e, o que é mais grave, quebra do monopólio estatal da violência.

Um dos pilares do estado democrático de direito é o monopólio pelo estado do uso da violência. Uma associação civil não pode ser caracterizada como democrática quando ela se furta ao monopólio estatal do uso da violência. É o que acontece, p. ex., nas favelas ou no Congresso brasileiro. O Brasil somente será democrático no momento em que as pessoas das favelas tiverem acesso à lei e ordem à polícia e à justiça. Por outro lado, o Brasil nunca será democrático enquanto os políticos ficarem acima da lei.

Uma invasão de prédio público seguida de ocupação cria um espaço, “revolucionário” diriam alguns, no qual o estado não pode exercer suas funções. Quem e quais normas de civilidade garantem a lei e a ordem nos espaços públicos invadidos? A invasão e ocupação de prédios públicos com o alijamento do controle estatal sobre a lei e a ordem representa uma grave violação do monopólio da violência pelo estado.

O argumento usado para as invasões é uma espécie de justiça  pelas próprias mãos face à ignomínia do mundo. Uma forma de “justiça coletiva”. Além da violação do monopólio da violência  há vários problemas adicionais com esse argumento. Os grupelhos que fazem essas invasões não são representativos das categorias sociais que supostamente deveriam representar. As assembleias que tomam essas decisões não respeitam o princípio do quórum mínimo e são amplamente manipuladas por ativistas profissionais. As invasões cerceiam a liberdade e o interesse de outras pessoas, que não foram consultadas ou que são alheias `s questões colocadas. Finalmente, não existe responsabilidade coletiva. A responsabilidade é sempre individual. O que garante a lei e a ordem são as instituições consensuadas pelos indivíduos.

Na realidade, a atual onda de invasões é uma espécie de doença infantil do esquerdismo e só reflete sua falta de alternativas, falta de representatividade e falta de atrativo para a população em geral, inclusive a mais pobre. A desmoralização das causas esquerdistas causada pelos desmandos e malfeitos do PT levará alguns anos para ser revertida. Um certo discurso esquerdista revelou-se uma farsa. A população, inclusive a mais pobre, está desencantada e descrente.

A psicopatia política não é uma exclusividade da esquerda. À direit a não faltam genocidas. A teoria da razão de estado foi formulada por Maquiavel na Renascença. Um dos exemplos mais divertidos de psicopatia política à direita é uma história atribuída a Lyndon Johnson. Reza a lenda que um diplomata queria que Johnson retirasse apoio de um notório ditador latino-americano, dizendo que o cara era um filho da puta. Johnson teria então respondido: “O cara é um filho da puta. Mas ele é o nosso filho da puta!”.

Mas os esquerdopatas têm uma longa tradição e vêm refinando sua prática. Um opúsculo de Trotski sobre “a nossa moral e a deles” é o exemplo mais acabado do pensamento esquerdopata. A idéia básica é essa que foi exposta acima, se a causa nobre, valem os métodos mais abjetos. Isso é que se chama de esquerdopatia.

Não acho que  o uso do termo esquerdopatia implique em alguma forma de preconceito por parte do emissor. Ao contrário, acho que constitui mais um desafio aos esquerdistas que não se identificam com a antisocialidade. Assim como muitos muçulmanos se sentem intimidados e não se manifestam contra o terrorismo, acho que existem muitos esquerdistas decentes que têm medo de se pronunciar contra comportametnos esquerdopatas. É compreensível, uma vez que todos nos sentimos intimidados pelos comportamentos antissociais e pela falta de lei e ordem no nosso País.


NOTA TÉCNICA

Uma caracterização mais precisa da esquerdopatia como forma de comportamento anti-social pode ser facilmente realizada consultando o DSM-5 ou Manual Diagnóstico e Estatístico da American Psychiatric Association (APA, 2013). O trecho citado a seguir caracteriza o transtorno anti-social de personalidade. Ou seja, uma condição na qual o indivíduo tende a emitir recorrentemente comportamentos anti-sociais. É interessante observar como a maioria dos critérios se aplica à esquerdopatia. Será que não são a mesma coisa?

“The essential feature of antisocial personality disorder is a pervasive pattern of disregard for, and violation of, the rights of others that begins in childhood or early adolescence and continues into adulthood. This pattern has also been referred to as psychopathy, sociopathy, or dyssocial personality disorder […].

]The individual] “must have had a history of some symptoms of conduct disorder before age 15 years (Criterion C). Conduct disorder involves a repetitive and persistent pattern of behavior in which the basic rights of others or major age-appropriate societal norms or rules are violated. The specific behaviors characteristic of conduct disorder fall into one of four categories: aggression to people and animals, destruction of property, deceitfulness or theft, or serious violation of rules.

“The pattern of antisocial behavior continues into adulthood. Individuals with antisocial personality disorder fail to conform to social norms with respect to lawful behavior (Criterion Al). They may repeatedly perform acts that are grounds for arrest (whether they are arrested or not), such as destroying property, harassing others, stealing, or pursuing illegal occupations. Persons with this disorder disregard the wishes, rights, or feelings of others. They are frequently deceitful and manipulative in order to gain personal profit or pleasure (e.g., to obtain money, sex, or power) (Criterion A2). They may repeatedly lie, use an alias, con others, or malinger […]. These individuals also display a reckless disregard for the safety of themselves or others (Criterion A5). This may be evidenced in their driving behavior (i.e., recurrent speeding, driving while intoxicated, multiple accidents). They may engage in sexual behavior or substance use that has a high risk for harmfulconsequences. They may neglect or fail to care for a child in a way that puts the child in danger.

“Individuals with antisocial personality disorder also tend to be consistently and extremely irresponsible (Criterion A6). Irresponsible work behavior may be indicated by significant periods of unemployment despite available job opportunities, or by abandonment of several jobs without a realistic plan for getting another job. There may also be a pattern of repeated absences from work that are not explained by illness either in themselves or in their family. Financial irresponsibility is indicated by acts such as defaulting on debts, failing to provide child support, or failing to support other dependents on a regular basis. Individuals with antisocial personality disorder show little remorse for the consequences of their acts (Criterion A7). They may be indifferent to, or provide a superficial rationalization for, having hurt, mistreated, or stolen from someone (e.g., 'Tife's unfair," "losers deserve to lose"). These individuals may blame the victims for being foolish, helpless, or deserving their fate (e.g., "he had it coming anyway"); they may minimize the harmful consequences of their actions; or they may simply indicate complete indifference. They generally fail to compensate or make amends for their behavior. They may believe that everyone is out to "help number one" and that one should stop at nothing to avoid beingpushed around” […]  (American Psychiatric Association, 2013, pp. 659-660).


Referência

American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disoders. DSM-5 (5th ed.). Washington, DC: American Psychiatric Press.

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